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Muito tempo antes de os colonizadores portugueses aportarem por aqui, os índios da etnia tupi-guarani ocupavam um grande território semiárido, de solo raso e pedregoso, altas temperaturas e pouca chuva, ao qual deram o nome de caatinga. É o único bioma exclusivamente brasileiro. Mas, ainda assim, é pouco conhecido em comparação aos outros principais ecossistemas do país (Amazônia, cerrado, Mata Atlântica, campos do Sul e banhados e Pantanal).
Na língua indígena, caatinga significa “mata branca”, “mata rala” ou “mata espinhenta”. Isso se deve ao fato de a cobertura de vegetação da região, no período de estiagem, se tornar esbranquiçada e quase sem folhas. Na realidade, trata-se de uma estratégia de sobrevivência de todas as formas de vida vegetal que lá habitam.
Um exemplo vem dos cactos, muito comuns naquele ambiente seco: suas folhas se modificam e tornam-se espinhos, deixando de realizar a fotossíntese e passando a proteger o tronco das plantas. “São adaptações que as plantas adquiriram para que pudessem conviver harmonicamente nesse ambiente de altas temperaturas e de falta de água”, explica a bióloga Lúcia Kiill, pesquisadora da Embrapa Semiárido.
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Mas, quando chove, as flores emergem, as árvores se revitalizam e o solo torna-se forrado de plantas. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, 932 espécies vegetais ocupam os solos da caatinga, das quais 318 são endêmicas, sendo as bromélias e os cactos (palma, mandacaru, xique-xique, facheiro, quipá e o coroa-de-frade) as principais famílias de plantas da região.
Animais se adaptaram para enfrentar as dificuldades do bioma
São inúmeras as saídas encontradas pelos animais da caatinga para resistirem ao forte calor e aos longos períodos de estiagem. Muitas espécies adquiriram hábitos migratórios. Outras, buscam esconder-se do sol durante o dia, saindo para caçar à noite. Os anfíbios, por exemplo, procuram abrigo em bromélias, se enterram e saem apenas nos períodos chuvosos.
A fauna da caatinga é diversa e composta por mais de 800 espécies animais. Já foram registradas 148 espécies de mamíferos, 510 de aves, 154 de répteis e anfíbios e 240 de peixes. A região também é o habitat do preá, da asa branca, do guigó-da-caatinga e do tamanduá-mirim. Além de seis espécies de felinos: a onça-pintada, a onça-parda, a jaguatirica, o gato-do-mato-pequeno, o gato-maracajá e o gato-mourisco.
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Patrimônio biológico não é levado em consideração pelo ‘bicho-homem’
Bem pior do que enfrentar as dificuldades climáticas, é ter que enfrentar as ameaças do ‘bicho-homem’. Segundo o Instituto Chico Mendes (ICMBio), a caatinga corresponde a 11% do território nacional, ocupando todos os estados do Nordeste até o norte de Minas Gerais. No entanto, 46% de sua área, um total de 844.453km², se transformou em deserto por ser explorada de forma ilegal.
Com tão poucas iniciativas de conservação, nas últimas décadas as fazendas de criação de gado, as indústrias siderúrgicas, a extração de madeira, a caça desmedida e a agricultura, entre outras formas de exploração inadequada do bioma, se tornaram graves ameaças.
Muitas espécies da fauna só existem naquele bioma e correm o risco de desaparecer. Ou já desapareceram. Quem lembra da ararinha-azul? Os poucos exemplares dessa ave hoje vivem em cativeiro. Já animais como o tatu-bola, a onça-parda e o soldadinho-do-araripe estão entre os muitos que correm risco de extinção.
“Infelizmente, se nada for feito, nosso único bioma exclusivamente brasileiro poderá desaparecer e se transformar em um deserto. Apesar de tanta riqueza biológica, nada disso é levado em consideração. Tanta exploração por décadas não dá a esse bioma o tempo necessário para que ele se regenere”, comenta o biólogo Maurício Terra Júnior.
“Só nos resta torcer para que haja uma maior consciência ambiental por parte de nossos governantes, que ações de preservação sejam implementadas o quanto antes e a caatinga, já tão castigada, não desapareça para sempre”, complementa.
Confira a beleza da fauna típica da caatinga. Arraste a imagem para o lado:
MB com informações da Embrapa e ICMBio