“Meu cachorro tem medo absolutamente de tudo. A lista de coisas que o amedrontam inclui a presença de algum prestador de serviço em casa, como pedreiro e o marcador de luz, buzina de carro, máquina de lavar ligada, liquidificador e até do gato da vizinha quando ele aparece no muro”, conta a professora Vânia Lacerda, tutora do vira-latas Cauã, de aproximadamente 2 anos.

A mestra afirma entender os traumas do pet. Há quase um ano, ela adotou o animal após encontrá-lo muito magro escondido debaixo do carro de seu pai, estacionado na frente da vila onde residem, na zona norte do Rio de Janeiro. “O bichinho estava todo encolhidinho atrás da roda e muito faminto. Ele deve ter sofrido muito, foi vítima de maus-tratos, então preciso ter paciência e amor”, reforça.

Identificar possíveis traumas, ameaças e saber como agir são as chaves para ajudar um cão a superar seus medos. Um cão sente medo por motivos diversos: predisposição genética; as primeiras experiências, como ter sido separado precocemente de sua mãe; má socialização com outros caninos e pessoas ou situações traumáticas.

Filhotes nascidos de mães estressadas (como a mãe que deu à luz em um abrigo de animais ou na rua) são mais propensos a ter medo também. Assim como o ambiente e a vida diária podem impactar em seu temperamento.

Esse medo pode ser desencadeado por ruídos, objetos, pessoas ou outros animais e se manifesta por meio de ações como se esconder, ficar parado, ser submisso e até latir ou atacar.

“Para alguns animais, basta uma única experiência traumática para criar respostas de medo ao longo da vida. É o caso, por exemplo, de um cão que se assusta com uma explosão de rojões na rua e então fica com medo de sair”, comenta o veterinário Ernani de Castilho.

Alguns sinais que indicam medo em cães incluem:

O corpo tremendo
Inquietação
Corpo curvado com a cabeça para baixo
Orelhas para trás
Cauda encolhida
Anda retraído e encostado na parede
Rosnados
Em alguns casos, incontinência

Um cão com medo também pode mostrar sinais mais sutis:

Ficar paralisado no lugar
Mover-se em câmera lenta
Ficar repetidamente lambendo os lábios
Bocejar com frequência
Respira ofegante

MANTENHA A CALMA E IGNORE O MEDO

Para ajudar um cão medroso, o melhor que o tutor pode fazer é mostrar calma e ignorar a atitude medrosa do animal. É preciso ter em mente que os cachorros percebem o que tutor sente, então é necessário ter calma, confiança e segurança.

Quando perceber que o cão está com medo, deve-se ter em mente que:

-Acariciá-lo ou abraçá-lo reforça o comportamento de medo e piora a situação.

-Repreensão e punição podem agravar o problema de comportamento do pet.

-Afastá-lo de seu possível esconderijo é um ato negativo que causará angústia.

Uma atitude protetora pode produzir efeitos contrários ao desejado. É por isso que o tutor deve tentar distraí-lo e desfocá-lo da situação tensa, oferecendo ao cão uma refeição apetitosa ou um petisco. Subtrair a atenção do estímulo negativo acabará por contribuir para normalizá-lo.

É importante destacar que um ambiente de hábitos e rotinas diários é essencial para manter o equilíbrio emocional do pet. O tutor deve tentar cumprir e respeitar as atividades e horários que compartilha com o amigo de quatro patas.

O QUE FAZER?

Algumas técnicas simples podem ser eficazes para o cão medroso superar seus traumas e a se sentir confortável neste mundo. Mas o tutor precisará de paciência e tempo disponível para o animal de estimação.

-A primeira dica é tentar acostumá-lo ao estímulo que desencadeia seu medo, combinado sempre com uma associação divertida ou positiva.
Ex: Um cão que tem medo de crianças pode começar a se sentir mais confortável se, regularmente, estiver em um local com elas por perto. Então, se o tutor depois o elogiar, acariciar e lhe der guloseimas assim que o cachorro notar as crianças, ele pode começar a vê-las como algo positivo.

Se ele tem medo de ruídos, procure gravar aqueles sons que o assustam e tocá-los em um volume baixo, para que o pet se acostume. Aumente gradualmente o volume, para que sua reação melhore pouco a pouco. Faça isso combinando com brincadeiras e petiscos.

Se ele tem medo de tempestades e trovões, procure distraí-lo com jogos, brincadeiras e petiscos.

-Levá-lo para passear na companhia de outro cão calmo. Isso pode melhorar sua tolerância a outros animais e, à medida que o medo desaparecer, uma nova amizade canina surgirá.

-Oferecer recompensas e mimos, mas com calma. Ao identificar o medo que o animal está sentindo, o tutor pode recompensá-lo com um brinquedo ou um petisco, sem ficar super protetor ou tenso, o que pode levar a uma reação negativa.

–Se ele tem medo de ficar sozinho, em casa, acostume-o a essa situação aos poucos. Duas a três vezes por dia, deixe-o só em uma área da casa, como quintal ou canil, durante cerca de meia hora, e disponibilize brinquedos para ele se distrair, de preferência interativos, como uma bola recheada com grãos de ração. Se possível, dê uma rápida saída nesse tempo, como uma ida à padaria. Recompense-o por ficar sozinho. Desta forma, ele irá habituar-se a ocupar o seu tempo só e ocupando a mente se distraindo com brinquedos.

É importante o tutor nunca se irritar com o cão medroso, isso só o deixará mais apavorado. Reforçando: tenha paciência, calma e carinho.

Se o medo do cão não desaparecer, o tutor deve procurar um médico veterinário especializado em comportamento animal, para definirem possíveis tratamentos e terapias. O profissional pode incluir no tratamento a prescrição de algum medicamento, cuja dose deve ser rigorosamente controlada para evitar efeitos adversos ou secundários. O tutor deve lembrar de que nunca deve medicar o pet por conta própria, pois pode expô-lo a danos irreversíveis.

O veterinário também pode recomendar o uso de feromônios ou produtos de origem natural para buscar um efeito calmante. Outra opção é recorrer a um adestrador.

Com paciência e persistência, é possível ajudar o cão medroso a superar todos os seus temores, garantindo que ele tenha uma vida feliz e equilibrada.