Elas assobiam, deslizam, escalam árvores com facilidade e, infelizmente, para os humanos e presas desavisadas, mordem – e algumas espécies engolem corpos inteiros. As cobras atacam cerca de 5,4 milhões de pessoas todos os anos, resultando em cerca de 138 mil mortes no mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Cobras venenosas matam suas vítimas com substâncias tóxicas produzidas em uma glândula salivar, que o animal injeta usando suas presas. Esse veneno evoluiu ao longo de milhões de anos para causar reações graves na vítima, desde imobilização e hemorragia até morte e inflamação do tecido, relataram pesquisadores em 2019 na revista científica “Frontiers of Ecology and Evolution”.
Aqui estão 10 cobras cujo veneno não apenas ataca pequenas presas, mas também pode matar humanos:
- Mamba-negra (Dendroaspis polylepis)
A cobra mais mortal da África, a mamba-negra (Dendroaspis polylepis) pode matar uma pessoa com apenas duas gotas de veneno. Batizadas com o nome da cor escura dentro de suas bocas – que elas abrem em sinal de ameaça -, as mambas-negras são, na verdade, de cor acastanhada. Eles têm em média 2,5 metros de comprimento e podem se mover a 19 km/h. Mas já foram encontrados indivíduos de 4,3 a 4,5 m de comprimento.
As mambas-negras nascem com duas a três gotas de veneno em cada presa, então elas são mordedoras letais desde o início. Na idade adulta, eles podem armazenar até 20 gotas em cada uma de suas presas, de acordo com pesquisadores do Parque Nacional Kruger. Seu veneno é composto principalmente de neurotoxinas, que induzem a sintomas em até dez minutos, resultando em paralisia. Sem tratamento (soro antiofídico), uma mordida desta cobra africana é 100% letal.
Descrita pela primeira vez formalmente por Albert Günther em 1864, é a segunda cobra venenosa mais longa depois da cobra-real.
2. Fer-de-lance (Bothrops asper)
A mordida de uma fer-de-lance (Bothrops asper) – ou “cabeça de lança” – pode deixar o tecido do corpo de uma pessoa necrosado quando ela começa a morrer. Estas víboras – distinguidas por uma pequena depressão sensorial entre cada olho e narina -, vivem na América Central e do Sul. Elas têm entre 1,2 m e 2,5 m de comprimento, pesam até 6 kg e são responsáveis por cerca de metade de todas as intoxicações por veneno de picada de cobra na América Central. Como o veneno da fer-de-lance contém um anticoagulante (uma substância que impede a coagulação do sangue), uma picada dessa cobra pode causar hemorragia. Seus compostos induzem efeitos locais intensos como dor, edema, hemorragia e necrose.
E se isso não o assustou, considere o seguinte: uma fêmea pode dar à luz 90 crias ferozes, de acordo com a Universidade da Costa Rica.
3. Boomslang (Dispholidus typus)
Cerca de 24 horas após ser mordido no polegar por uma boomslang (também chamada de “cobra verde da África do Sul” ou “serpente da árvore”), o herpetologista (zoólogo especialista em répteis) americano Karl Patterson Schmidt morreu aos 67 anos de hemorragia interna, sofrendo sangramento nos olhos, rins, pulmões, coração e cérebro. A cobra foi enviada para Schmidt no Museu Field, em Chicago, nos Estados Unidos, para identificação. Como outros herpetologistas da época (1890), Schmidt acreditava que as cobras com presas traseiras, como a boomslang (Dispholidus typus), não podiam produzir uma dose de veneno grande o suficiente para ser fatal para os humanos. Eles estavam errados e Schmidt pagou com a vida. E mais: ele, que fez com que o animal mordesse sua mão e recusou tratamento, começou a escrever sobre os efeitos da picada que estava sentindo a partir daquele momento. Até a morte. Sinistro…
A boomslang, que pode ser encontrada em toda a África, mas vive principalmente na Suazilândia, Botswana, Namíbia, Moçambique e Zimbábue, é uma das mais venenosas das chamadas cobras com presas traseiras, de acordo com o Museu de Zoologia da Universidade de Michigan. Essas cobras podem dobrar suas presas de volta em suas bocas quando não estiverem em uso. Como em outras cobras mortais, esta tem veneno hemotóxico que faz com que suas vítimas sangrem interna e externamente.
Com uma cabeça oval, olhos enormes e um corpo com um padrão verde brilhante, nos machos, e com tons de marrom, nas fêmeas, a boomslang é bastante atraente. O tamanho médio de uma cobra adulta desta espécie é de 1 m a 1,60 m. Quando ameaçada, a cobra infla o pescoço até o dobro do tamanho e expõe uma aba de pele de cores vivas entre as escamas. Essas cobras podem abrir as mandíbulas em até 170° ao morder e seu veneno é altamente potente e hemotóxico, ou seja, ele desabilita o processo de coagulação do sangue, causando hemorragias, em uma ação que costuma ser lenta. Isso significa que a morte por uma mordida de boomslang pode ser horrível. “As vítimas sofrem extensa hemorragia muscular e cerebral e, além disso, o sangue começa a vazar por todas as saídas possíveis, incluindo gengivas e narinas, e até mesmo o menor dos cortes. O sangue também começa a extravasar no corpo através das fezes, urina, saliva e vômito da vítima até a morte”, descreve a revista científica “Scientific American”. Felizmente, existe um antiveneno para a boomslang… se a vítima conseguir obtê-lo a tempo.
4. Cobra-tigre (Notechis scutatus)
Nativa das montanhas e pastagens do sudeste da Austrália, a cobra-tigre-oriental (Notechis scutatus), como é chamada popularmente, tem esse nome devido às faixas amarelas e pretas em seu corpo, embora nem todas as populações apresentem esse padrão, de acordo com o Museu Australiano.
As cobras-tigre geralmente vivem no solo, mas podem nadar com facilidade e foram registradas escaladas em pequenas árvores e arbustos. Seu potente veneno pode causar envenenamento em humanos em apenas 15 minutos após uma mordida. A espécie é responsável por pelo menos uma morte por ano em média, segundo dados da Universidade de Adelaide.
5. Víbora-de-Russell (Daboia russelii)
Cerca de 58.000 mortes na Índia são atribuídas a picadas de cobra todos os anos e a víbora-de-Russell (Daboia russelii) é responsável pela maioria dessas mortalidades, segundo pesquisa publicada em 25 de março de 2021, no jornal “LOS Neglected Tropical Diseases”. Esta espécie é considerada uma das víboras verdadeiras mais mortíferas, relataram pesquisadores na revista “Toxins”. A víbora-de-Russell é encontrada na Ásia em todo o subcontinente indiano, grande parte do sudeste asiático, sul da China e Taiwan.
No Sri Lanka, onde esta víbora noturna gosta de descansar em arrozais, elas causam alta mortalidade entre os produtores de arroz durante a época da colheita. O veneno da cobra pode levar a uma terrível miscelânea de sintomas: insuficiência renal aguda, sangramento grave e danos a múltiplos órgãos. Alguns componentes do veneno relacionados à coagulação também podem causar acidentes vasculares cerebrais agudos e, em casos raros, sintomas semelhantes à síndrome de Sheehan, na qual a hipófise para de produzir certos hormônios. As vítimas geralmente morrem de insuficiência renal.
6. Víbora Echis (Echis carinatus)
A víbora Echis ou “escama de serra” (Echis carinatus) é o menor membro dos “Quatro Grandes” répteis mortais na Índia – junto com a víbora-de-Russell, a krait comum (Bungarus caeruleus) e a Naja indiana (Naja naja) – considerada responsável pela maioria picadas e mortes relacionadas no país. Ela tem menos de 1 m de comprimento.
Em vez do som estereotipado de “assobio” atribuído às cobras, esta víbora começa a “chiar” ao esfregar suas escamas em forma de dentes de serra umas contra as outras, quando se sente ameaçada. Se picada por esta víbora, a vítima terá inchaço localizado e dor na área, seguido por hemorragia potencial. Uma vez que o veneno interfere na capacidade de coagulação do sangue, pode causar hemorragia interna e, por fim, insuficiência renal aguda. Hidratação e antiveneno (existem nove tipos de soro antiofídico para a espécie) devem ser administrados após a picada para uma pessoa sobreviver. Muitos ataques resultam em amputação do membro atingido.
7. Banded krait (Bungarus fasciatus)
A banded krait (Bungarus fasciatus), ou krait bandado, move-se lentamente durante o dia e tem muito mais probabilidade de morder à noite. O veneno dessa cobra pode paralisar os músculos e impedir que o diafragma se mova. Isso impossibilita que o ar entre nos pulmões, resultando efetivamente em asfixia.
É uma espécie de cobra elapídeo encontrada no subcontinente indiano e no sudeste da Ásia. A banded krait a maior espécie de kraits, com um comprimento máximo de até 2,7 m. O nome científico do gênero é derivado da palavra Kannada/Telugu ‘bangara’ em Kannada e ‘bangarum’ em Telugu, que significa “ouro”, referindo-se aos anéis amarelos ao redor de seu corpo.
8. Cobra-real (Ophiophagus hannah)
A cobra-real (Ophiophagus hannah) ou cobra-rei é a maior serpente venenosa do planeta, medindo até 5,4 m, de acordo com o Museu de História Natural de Londres. A espécie é encontrada na Índia e no Sudeste asiático, em zonas de floresta cerrada. A visão impressionante da cobra-real permite que ela localize uma pessoa em movimento a cerca de 100 metros de distância. Quando ameaçada, uma cobra-real usa costelas e músculos especiais em seu pescoço para alargar seu “capuz” ou a pele ao redor de sua cabeça. Essas cobras podem erguer-se até à altura de um homem adulto e os ataques ocorrem muitas vezes na cabeça.
Sua fama não é tanto em relação a potência de seu veneno, mas sim pela quantidade injetada nas vítimas: cada mordida libera cerca de 7 mililitros de veneno, e a cobra tende a atacar com três ou quatro picadas sucessivas. Mesmo uma única mordida pode matar um humano em 15 minutos e um elefante adulto em apenas algumas horas. Seu nome científico se traduz como “devoradora de serpentes”. Não foi à toa que a batizaram assim, uma vez que a dieta das cobras-reais consiste quase que exclusivamente em devorar outras cobras.
9. Taipan-costeira (Oxyuranus scutellatus)
Você pode ser mordido várias vezes antes de conhecer a taipan, também conhecida como taipan-costeira ou taipan-comum (Oxyuranus scutellatus), graças à sua velocidade incrível, de acordo com o Museu Australiano. Quando ameaçada, esta cobra levanta todo o seu corpo do chão enquanto pula nas presas, primeiro com extraordinária precisão, injetando veneno em seu inimigo. Antes de 1956, quando um antiveneno eficaz foi produzido, a picada dessa cobra era quase sempre fatal, de acordo com a Australian Geographic.
Essa é uma das espécies de grandes serpentes extremamente venenosas da família Elapidae. É nativa das regiões costeiras do norte e leste da Austrália e da ilha da Nova Guiné. Pode ter até três metros de comprimento e variar de cor castanho-amarelado, avermelhado a quase preto. Alimenta-se de roedores, anfíbios e pequenos répteis e é essencial para o ecossistema australiano. A taipan tem duas subespécies: a taipan-costeira, da Austrália, e a taipan-da-papuásia, encontrada na costa sul da Papua Nova Guiné.
10. Taipan-do-interior (Oxyuranus microlepidotus)
A taipan-do-interior (Oxyuranus microlepidotus) é considerada a cobra mais venenosa do mundo, o que significa que apenas um pouquinho de seu veneno pode matar presas (ou vítimas humanas) rapidamente. Sua picada contém veneno suficiente para matar mais de 100 pessoas. É também chamada cobra-de-escamas-pequenas ou cobra-feroz. Pertence à família Elapidae, que conta com 240 espécies altamente venenosas em todo o planeta.
Essas cobras vivem aninhadas nas fendas de argila das planícies aluviais de Queensland e da Austrália do Sul, geralmente dentro de tocas pré-cavadas de outros animais. Vivendo em locais mais remotos do que a taipan-costeira, a taipan-do-interior raramente entra em contato com humanos – ufa!.
Quando a taipan se sente ameaçada, ela enrola seu corpo em forma de S antes de dar uma ou várias mordidas. Sua picada pode causar paralisia respiratória, levando a vítima à morte em poucos minutos. Um ingrediente principal desse veneno, que o diferencia de outras espécies, é a enzima hialuronidase. De acordo com um estudo publicado em 2020 na revista “Toxins” (Novas estratégias para o diagnóstico e tratamento de picadas de cobra), esta enzima aumenta a taxa de absorção das toxinas por todo o corpo da vítima.