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Amonites gigantes nadaram no Atlântico há 80 milhões de anos

Fóssil de criatura marinha. Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Há cerca de 80 milhões de anos, assustadoras criaturas marinhas de tamanho humano, que ostentavam braços semelhantes a tentáculos e conchas enroladas de até 1,8 m de largura, deslizaram pelo Oceano Atlântico. É o que revela um novo estudo.

Essas criaturas eram as maiores amonites do mundo – um grupo de moluscos cefalópodes que foi extinto há cerca de 66 milhões de anos junto com os dinossauros. O maior fóssil de amonite já descoberto pertence à espécie Parapuzosia seppenradensis. Encontrado na Alemanha em 1895, o fóssil tem uma concha gigantesca medindo 1,7 m de diâmetro.

Embora esse famoso fóssil tenha sido descoberto há mais de um século, poucos vestígios de amonites de tamanho semelhante foram encontrados até recentemente, o que deixou grandes questões sobre como e quando o Parapuzosia seppenradensis evoluiu para um tamanho tão impressionante.

Agora, em um novo estudo publicado na revista PLOS One, os pesquisadores preencheram a história evolutiva do enorme cefalópode examinando 154 fósseis de amonites. A análise incluiu um punhado de espécimes históricos e mais de 100 vestígios recém-descobertos coletados na Inglaterra e no México. Com base nessa análise, eles descobriram que Parapuzosia seppenradensis surgiu em ambos os lados do Oceano Atlântico há cerca de 80 milhões de anos. E provavelmente evoluiu de uma espécie menor relacionada chamada Parapuzosia leptophylla, que cresceu para ter apenas 1 m de largura.

“Temos este fóssil mundialmente famoso aqui na Alemanha e agora podemos contar sua história”, destacou a principal autora do estudo Christina Ifrim, pesquisadora das Coleções de História Natural da Baviera e diretora de ciências do Jura-Museum, um museu de história natural em Eichstätt, Alemanha.

Para reunir a história do famoso molusco gigante, que agora está em exibição no Museu de História Natural de Münster, a equipe viajou para um local de campo a cerca de 40 quilômetros ao norte de Piedras Negras, no norte do México.

Novas técnicas

Enormes depósitos de sedimentos marinhos do Cretáceo podem ser encontrados em vários locais do México, incluindo o local de campo que a equipe visitou, segundo informou Ana Bertha Villaseñor Martinez, pesquisadora do Instituto de Geologia da Universidad Nacional Autónoma de México. Embora amonites gigantes tenham sido descobertos no México no passado, os autores do estudo aplicaram novas técnicas para entender como as criaturas cresceram e se desenvolveram ao longo de suas vidas, e como elas evoluíram como espécie ao longo do tempo. Ao portal científico Live Science, Villaseñor Martinez disse que, dessa forma, a equipe “melhorou o entendimento sobre os amonites, em geral”.

Em um leito de rio largo e seco no local de campo mexicano, a equipe escavou através de camadas de giz, calcário, lama e argila e encontrou 66 espécimes de Parapuzosia, incluindo o P. seppenradensis gigante e o menor P. leptophylla. Os fósseis mediam entre 0,1 a 1,48 m de largura e representavam diferentes estágios no ciclo de crescimento da amonite.

“Um pequeno espécime não se parece com uma versão pequena dessa amonite gigante. Eles mudam durante o crescimento”, disse Ifrim. Mas esses estágios distintos de crescimento eram difíceis de estudar no passado devido à escassez de espécimes. Com mais espécimes em mãos, a equipe pôde ver como P. seppenradensis e P. leptophylla seguiram, cada um, um ciclo de crescimento distinto de cinco estágios, onde suas conchas cresceram continuamente e sua morfologia mudou.

O maior fóssil de amonite já encontrado mede quase 2 metros de largura. Foto: Reprodução

Camadas de sedimento

Ao separar os vários espécimes de Parapuzosia, a equipe também datou as camadas de sedimento de onde os espécimes apareceram. Eles descobriram que as amostras de P. leptophylla datavam do final da idade santoniana (86,3 milhões a 83,6 milhões de anos atrás), uma subdivisão do Cretáceo Superior. Em comparação, P. seppenradensis apareceu em sedimentos mais jovens, datando posteriormente no Santoniano e no início do período seguinte, o Campaniano (83,6 milhões a 72,1 milhões de anos atrás). O mais antigo desses espécimes alcançava apenas 1 m de largura, como P. leptophylla, mas na metade do início do Campaniano, amonites de tamanhos mais formidáveis ​​surgiram no registro fóssil.

E descobriu-se que amonites de circunferência comparável também podiam ser encontradas do outro lado do Atlântico e, no mesmo período, a equipe descobriu mais. “Não esperávamos encontrar P. seppenradensis e esse ancestral do outro lado do Atlântico quando iniciamos o estudo”, contou Ifrim.

No Reino Unido, a equipe descobriu dezenas de espécimes gigantes de amonites na base de um penhasco de giz branco em Sussex e mais perto dos penhascos de giz do leste de Kent. Ao analisar as amostras, a equipe percebeu: “Esses gigantes ocorrem, aparentemente, mais ou menos ao mesmo tempo em ambos os lados do Atlântico”, disse Ifrim. “Deve ter ocorrido uma conexão entre as populações de ambos os lados, porque apresentam a mesma evolução, o mesmo tempo.”

E tanto na Inglaterra quanto no México, a equipe encontrou uma concentração incomumente alta de conchas de tamanho adulto. Eles teorizaram que talvez essas áreas servissem como locais de acasalamento ou incubação, onde os amonites gigantes completaram seus ciclos reprodutivos e morreram logo depois, como algumas espécies modernas de lulas e chocos (moluscos também chamados de sibas ou sépias). Mas, embora isso possa explicar a notável abundância de fósseis de amonites nesses locais, o achado não responde a duas grandes questões: por que os amonites ficaram tão grandes em primeiro lugar e como eles apareceram em ambos os lados do Atlântico?

Em relação à primeira questão, os amonites podem ter enfrentado uma pressão evolutiva para crescer porque um grande predador do Cretáceo, os répteis marinhos chamados mosassauros, também cresceram durante esse período, observaram os autores. No entanto, embora haja evidências de mosassauros se alimentando de amonites, não há evidências diretas de que eles interagiram com P. seppenradensis, especificamente. Então, por enquanto, isso é apenas especulação.

Também não sabemos como a distribuição de amonites gigantes se espalhou pelo Atlântico. Os amonites são considerados nadadores bastante lentos, semelhantes aos nautiloides (família de moluscos cefalópodes nectônicos marinhos do Indo-Pacífico caracterizada por ter uma grande concha externa calcária) modernos. Mas é possível que os amonites gigantes cobrem distâncias com mais eficiência, graças ao seu tamanho, segundo disse Ifrim. Por outro lado, os cefalópodes podem ter cruzado o oceano durante seus estágios menores de crescimento juvenil, arrastados pelas correntes oceânicas.

Portanto, embora o novo estudo preencha algumas lacunas no passado dos cefalópodes gigantes, muitos mistérios permanecem.

Fonte: Live Science