As atividades humanas podem influenciar os animais de diferentes maneiras. Algumas espécies da fauna podem se adaptar a novos ambientes mudando seu comportamento. Outras não mostram tanta flexibilidade e não são tão bem sucedidas na adaptação. O tipo de ação humana a que os animais são expostos é um dos principais fatores que determinam suas respostas comportamentais.
As ariranhas (Pteronura brasiliensis), também chamadas de onças d’água, lontras-gigantes e lobos-do-rio, são carnívoros visíveis e vocais que vivem em lagos e rios tropicais. É o membro mais antigo dos mustelídeos, um grupo de predadores de sucesso global, alcançando até 1,7 metros. Seu tamanho significa que esses animais não têm medo de serem vistos ou ouvidos pelos humanos. O comportamento social das ariranhas é relativamente fácil de observar, tornando-as uma atração comum para turistas em vários países da América do Sul, incluindo Brasil, Bolívia e Peru. Para garantir que a presença de grupos de turistas não seja prejudicial às ariranhas, é importante entender se a exposição consistente a humanos influencia seu comportamento.
Esta foi uma das questões que os membros do projeto de conservação da ariranha do Peru, liderado por Adi Barocas, tentaram examinar. Eles passaram horas no trabalho de campo, seguindo grupos de ariranhas em botes infláveis de borracha, anotando seu comportamento. Eles se concentraram especificamente em comportamentos que poderiam ser indicadores do bem-estar dos animais, como capturas de peixes bem-sucedidas e comportamentos defensivos (o que pode sugerir que as lontras estavam se sentindo ameaçadas).
Ariranhas podem se acostumar com a presença de humanos
Adi e sua equipe descobriram que as lontras em lagos protegidos frequentemente visitados por ecoturistas eram tolerantes com os humanos. Essas lontras mostraram menos comportamento defensivo ou periscópio em comparação com aquelas em lagos não visitados por humanos. O periscópio descreve a ação das lontras se elevando acima do nível da água para parecerem maiores.
Grupos de ariranhas dentro de lagos protegidos também tiveram mais sucesso na captura de peixes. Isso pode ser explicado pela redução da atividade humana nesses lagos, mas provavelmente porque fora das áreas protegidas, as quantidades de peixes são muito menores.
Em seu artigo científico recentemente publicado, os pesquisadores concluem que as ariranhas expostas ao ecoturismo se acostumam ou se acostumaram com a presença de humanos, com alto sucesso na captura de peixes e sem efeitos adversos visíveis. Essas descobertas podem ajudar a conservação das ariranhas, fornecendo informações às autoridades de gestão locais para que possam continuar a monitorar as atividades dos operadores de ecoturismo.
Os pesquisadores também estudaram ariranhas em lagos onde ocorre pesca e mineração de ouro, e os resultados foram menos animadores. Eles descobriram que as ariranhas expostas a tais atividades eram mais propensas a evitar a presença de humanos. Essas descobertas indicam que onde as atividades extrativistas são mais comuns, os humanos são mais propensos a serem percebidos como um risco para as ariranhas.
Uma das questões importantes restantes é se as atividades humanas têm efeitos de longo prazo nas ariranhas, por exemplo, em seu número e capacidade de criar filhotes. Adi e sua equipe de ariranhas esperam responder a essa pergunta continuando a monitorar grupos dentro e fora das áreas protegidas.
Classificação científica da ariranha:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Carnivora
Família: Mustelidae
Subfamília: Lutrinae
Gênero: Pteronura
(Gray, 1837)
Espécie: P. brasiliensis
Com informações da Ptes.org (People’s Trust For Endangered Species)
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