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Hipopótamos reconhecem as vozes dos ‘amigos’, indica estudo

Os sons que os hipopótamos emitem incluem um amplo repertório vocal. Foto: Pixabay

Uma equipe internacional de pesquisadores estudou o comportamento dos hipopótamos em uma reserva em Moçambique, na África. Os resultados, que foram publicados na revista Current Biology, identificaram diferenças nas respostas que esses mega-herbívoros dão às vocalizações de outros hipopótamos – sejam do mesmo grupo, vizinhos ou estranhos.

A espécie Hippopotamus amphibius é uma dos três mega-herbívoros da África, juntamente com o elefante e o rinoceronte, pois todos pesam mais do que uma tonelada. Apesar de o hipopótamo não ser considerado em risco de extinção, as suas populações decresceram dramaticamente nas últimas décadas. E a biologia da espécie – cujo conhecimento é importante para as estratégias de conservação – “é ainda misteriosa em muitos aspectos.”

“Estudar a biologia comportamental dos hipopótamos na natureza é complicado. É difícil, se não impossível, identificar e marcar indivíduos e por vezes altamente desafiante localizá-los”, explicam os quatro autores no artigo científico. Da equipe fazem parte Paulo Fonseca – professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e investigador do cE3c – Centro de Ecologia Evolução e Alterações Ambientais – e ainda outros pesquisadores ligados às universidades francesas de Saint-Etienne e de Lyon.

Grupos socialmente estruturados

Os hipopótamos alimentam-se de noite, quase sempre de forma solitária, mas de dia permanecem em grupos dentro d’água. Sabe-se que esses grupos são “socialmente estruturados em torno de um macho dominante, um número variável de fêmeas e os seus filhotes e alguns machos periféricos”. E acredita-se também que “o sistema social da espécie se baseia em sinais de comunicação”, uma vez que os hipopótamos “são muito vocais”.

Os sons que esses animais emitem incluem, aliás, um amplo repertório vocal, incluindo grunhidos e guinchos, e podem ser ouvidos até mais de um quilômetro de distância, segundo os cientistas. Mas falta saber, em grande parte, para que servem essas vocalizações.

Ouça um exemplo de vocalizações de hipopótamos captadas na Reserva Especial de Maputo:

Para compreender se as vocalizações são usadas para reconhecer amigos e estranhos, os pesquisadores gravaram o som produzido por indivíduos de sete grupos diferentes de hipopótamos que vivem na Reserva Especial de Maputo, em Moçambique, e reproduziram para cada grupo, a partir de um alto falante.

A equipe decidiu focar em uma vocalização conhecida em inglês como ‘wheeze honk’ – que significa algo como “chiado de buzina” – que é a mais utilizada por esses mamíferos quando comunicam entre si. Acredita-se que este chamado é importante para a coesão social dos grupos, mas não se sabe bem qual o seu papel exatamente.

Ouça uma destas vocalizações ‘wheeze honk‘ capatadas na Reserva Especial de Maputo:

Ao comparar as reações dos hipopótamos perante os sons gravados, os cientistas perceberam que as respostas eram menos intensas quando ouviam vocalizações de outros animais do mesmo grupo ou de grupos vizinhos no mesmo lago.

Já ao ouvirem os sons de hipopótamos desconhecidos, emitiram “sons mais rápidos e mais frequentes” e “mostraram-se mais agressivos”. “Aproximaram-se do emissor de som e geralmente marcaram o seu território, defecando e lançando fezes em todas as direções, com o auxílio das caudas”.

Reconhecimento vocal

A conclusão dos cientistas é de que esses animais parecem conseguir diferenciar entre os sons daqueles que pertencem ao mesmo grupo, ou são vizinhos, e aqueles que são emitidos por grupos desconhecidos. A equipe acredita também que “os hipopótamos provavelmente conseguem distinguir diferentes indivíduos”, mas isso ainda não está comprovado.

Por outro lado, a chegada de um hipopótamo desconhecido parece ser mais ameaçadora do que a de um animal vizinho. Esse tipo de reconhecimento vocal existe também em outros grandes mamíferos, como por exemplo o elefante-marinho.

Os resultados deste estudo podem agora passar a ser aplicados na gestão das populações de hipopótamos, que são muitas vezes deslocadas para outros locais devido à caça ou à perda de habitat. Assim – sugerem os autores do artigo científico –, antes de um grupo de hipopótamos ser transferido para um novo território com outros hipopótamos, as vocalizações de ambos poderão ser gravadas e dadas a ouvir aos futuros vizinhos, através de alto falantes, de forma a diminuir a agressão quando se encontrarem.

Fonte: Wilder