
Se você tem um cão, provavelmente já ouviu falar da temida doença do carrapato. No Brasil, essa expressão popular se refere a um conjunto de infecções graves transmitidas pelo carrapato-marrom (Rhipicephalus sanguineus), sendo as mais comuns a erliquiose e a babesiose. Infelizmente, basta uma única picada de um carrapato infectado para o seu pet correr um risco sério. Por isso, a informação é a sua maior aliada: saber o que é, como prevenir e, principalmente, reconhecer os primeiros sinais da doença do carrapato pode salvar a vida do seu amigo de quatro patas.
O grande problema é que a doença do carrapato pode ser silenciosa no início, e os sintomas costumam ser inespecíficos, confundindo o tutor com um simples desânimo ou “preguiça”. Além disso, muitas vezes o carrapato já caiu do corpo do animal quando os sinais da doença aparecem, dificultando a associação imediata. Por essa razão, preparamos este guia completo para que você entenda a diferença entre a erliquiose e a babesiose, descubra o que observar no comportamento do seu pet e, em primeiro lugar, aprenda a blindá-lo contra este parasita.
O que é a doença do carrapato?
A popular doença do carrapato engloba, primariamente, duas infecções distintas, mas que frequentemente ocorrem juntas (coinfecção):
A erliquiose e a destruição das plaquetas
A erliquiose é causada pela bactéria Ehrlichia canis. Quando transmitida pela picada do carrapato, essa bactéria invade a corrente sanguínea e tem como alvo principal as células de defesa e as plaquetas. A diminuição das plaquetas (trombocitopenia) compromete a coagulação do sangue, o que leva a sinais graves, como sangramentos.
A babesiose e o risco de anemia grave
Já a babesiose é causada por um protozoário do gênero Babesia. Este parasita age destruindo rapidamente os glóbulos vermelhos do pet. Dessa forma, o principal sintoma da babesiose é a anemia grave, que pode levar a um quadro de fraqueza extrema e icterícia (coloração amarelada da pele e das mucosas).
Alerta importante: a diferença para o carrapato-estrela
Embora o vetor principal da erliquiose e babesiose seja o carrapato-marrom (comum em ambientes domésticos), é crucial não confundir a doença do carrapato com a Febre Maculosa Brasileira. Esta última é transmitida pelo carrapato-estrela e é causada por uma bactéria diferente (Rickettsia). A Febre Maculosa é uma zoonose grave, ligada a áreas rurais, de mata ou com presença de capivaras e cavalos. O uso de antiparasitários é a única forma de prevenção contra ambos os vetores.
“Muitas vezes, a doença do carrapato é mais agressiva porque o animal está lutando contra a bactéria da Ehrlichia e o protozoário da Babesia ao mesmo tempo. O diagnóstico precoce é a chave para evitar que a doença chegue na fase crônica, que é muito mais difícil de tratar”, explica o veterinário Jorge Mello.
Sintomas que exigem veterinário
A doença do carrapato se manifesta de forma diferente no organismo do cão, mas é fundamental que o tutor observe qualquer mudança sutil no comportamento, pois os sinais iniciais podem ser inespecíficos:
Letargia e perda de apetite
Um dos primeiros e mais comuns sinais é a letargia ou a apatia. O pet, antes brincalhão, passa a ficar mais quieto, sem vontade de passear ou interagir. Além disso, a perda de apetite é quase sempre um sinal de alerta. Se o seu cão ou gato recusa a ração ou come muito menos do que o normal por mais de um dia, isso deve ser investigado imediatamente, pois pode ser um sintoma precoce da doença do carrapato.
Febre e mucosas pálidas ou amareladas
A febre pode ocorrer, mas nem sempre é fácil de ser percebida. Mais evidente é a alteração nas mucosas (gengivas, parte interna dos olhos). Se a gengiva estiver muito pálida, quase branca, é um forte indicativo de anemia causada pela Babesiose. Por outro lado, se estiver amarelada, pode sinalizar icterícia, um sinal de que a doença está afetando o fígado.
Sinais de sangramento
A forma mais grave, geralmente associada à Erliquiose, pode levar a sangramentos devido à falta de plaquetas. Observe se há pontinhos vermelhos ou manchas roxas na pele ou na gengiva, chamadas petéquias. Outros sinais incluem sangramento nasal (epistaxe) ou presença de sangue na urina e nas fezes. Nesse sentido, se notar qualquer sinal de sangramento, procure um veterinário com urgência.
Como prevenir em casa e nos passeios
A melhor forma de lidar com a doença do carrapato é evitando-a. A prevenção deve ser feita em duas frentes: no pet e no ambiente.
Produtos eficazes: coleiras, comprimidos e pipetas
Hoje, o mercado oferece diversas opções altamente eficazes. O uso deve ser contínuo, ou seja, o ano todo, e não apenas no verão, já que o carrapato-marrom se adapta bem ao clima brasileiro.
- Comprimidos mastigáveis: São muito eficazes e costumam ter efeito prolongado (1 a 3 meses), matando o parasita assim que ele pica o animal, o que impede a transmissão da doença.
- Coleiras repelentes: Podem ser excelentes aliadas, pois agem repelindo o carrapato antes mesmo que ele suba no animal.
- Pipetas (uso tópico): Aplicadas na nuca do pet, oferecem proteção por um período determinado.
Higiene do ambiente e áreas de risco
O carrapato passa apenas 10% do seu ciclo de vida no animal e 90% no ambiente. Dessa forma, combater a infestação na casa ou no quintal é crucial, e ter atenção aos locais de passeio é vital:
- Mantenha gramados aparados e faça a dedetização periódica.
- Lave e higienize as casinhas, cobertores e caminhas com frequência.
- Evite áreas de risco: Se for passear com seu pet em trilhas, parques rurais, pastagens ou locais onde há grande circulação de cavalos ou capivaras, o risco de encontrar o carrapato-estrela é maior. Nesses casos, reforce a inspeção do pet imediatamente após o passeio.
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O que fazer se encontrar um carrapato? Nunca esmague!
Se, mesmo com toda a prevenção, você encontrar um carrapato fixado no seu pet, a forma de remoção é crítica para evitar a transmissão de doenças:
- Use luvas: Sempre proteja as mãos para evitar contato direto com o parasita e possível contaminação.
- Pinça é a ferramenta: Utilize uma pinça de ponta fina ou um removedor de carrapatos específico.
- Aproxime da pele: Segure o parasita o mais perto possível da pele do seu cão, na região da cabeça.
- Puxe suavemente: Faça uma tração lenta, firme e constante para cima, sem torcer ou apertar o corpo do carrapato. É fundamental não esmagar o carrapato, pois isso pode fazer com que ele libere saliva e agentes infecciosos na ferida.
- Descarte seguro: Depois de removê-lo inteiro, descarte-o em um recipiente com álcool ou água fervente, e não jogue-o diretamente no lixo ou vaso sanitário (ele pode sobreviver).
O diagnóstico e o tratamento
Ao suspeitar da doença do carrapato, o veterinário irá solicitar exames de sangue, como o hemograma completo e testes específicos (PCR ou sorologia). O tratamento geralmente envolve o uso de antibióticos (no caso da Erliquiose) e, muitas vezes, medicamentos para combater a Babesia. Em casos graves, pode ser necessário internação e até transfusão de sangue.
“A doença do carrapato é uma realidade grave na vida dos tutores brasileiros, mas pode ser evitada com um bom protocolo preventivo. Mantenha os antiparasitários em dia, observe seu pet e não hesite em procurar o veterinário ao primeiro sinal de letargia ou perda de apetite”, conclui o veterinário Jorge Mello.
Por MB.
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