É preciso ter muita coragem ou, no mínimo, espírito aventureiro para chegar perto de um crocodilo. Se ele abrir sua boca enorme, então, certamente é um aviso de que o melhor a fazer é dar no pé. Mas para a ave-palito, a bocarra deste réptil é um convite tentador, vantajoso e nada ameaçador. É que, em troca de comida farta, a ave ‘presta serviços’ ao seu inusitado amigo: mantém seus dentes limpos de parasitas e restos de alimentos, contribuindo para a manutenção da saúde oral desse réptil e deixando-o, assim, aliviado e muito agradecido.
Essa lição de solidariedade entre duas espécies diferentes _ animais ou vegetais -, na qual ambas são beneficiadas, chama-se simbiose ou relação simbiótica.
“Nesta associação interespecífica pode ou não ser estabelecida uma dependência fisiológica bilateral entre os seres. Neste caso, um desequilíbrio pode causar a mote das duas espécies, como no caso dos cupins e protozoários. Estes habitam os intestinos dos cupins e fazem a digestão do alimento ingerido”, exemplifica o veterinário Francisco Vilardo.
No reino animal, encontramos ainda outras formas surpreendentes de interações entre os seres que se caracterizam pelo benefício mútuo – o chamado mutualismo. Ou pelo benefício de apenas um deles, sem prejuízo a nenhuma das partes – assim chamado comensalismo.
O ermitão, que é uma espécie de crustáceo, usa uma concha vazia para se abrigar e proteger dos inimigos. Os anús, que são uma espécie de ave, e alguns pássaros africanos se alimentam de carrapatos e livram mamíferos como búfalos, cavalos e rinocerontes desses incômodos parasitas.
Peixes como a rêmora e o tubarão têm uma relação comensalista. As rêmoras prendem-se à pele do tubarão e alimentam-se com os restos do que ele come, sem o afetar.
Já o parasitismo é uma relação em que um dos seres se beneficia e o outro é prejudicado. O organismo que se beneficia é chamado de parasita e o prejudicado é o hospedeiro. As pulgas e os carrapatos são exemplos de parasitas, pois se grudam à pele de cães, gatos e outros animais e alimentam-se do sangue deles. Isso causa coceira e dor, além de muitas vezes provocar doenças no hospedeiro.
“Esses exemplos mostram como a natureza é um grande quebra-cabeça. Isso, porque cada peça é fundamental para o perfeito funcionamento de toda a engrenagem da vida”, filosofa Francisco Vilardo.
PEIXE-PALHAÇO E ANÊMONA
Um clássico exemplo de relação simbiótica fez sucesso nos cinemas. Em “Procurando Nemo” (2003), um peixe-palhaço (Amphiprion frenatus) se escondia sob os tentáculos venenosos de uma anêmona.
“O peixe-palhaço se mantém protegido de seus predadores ao permanecer na anêmona (devido a uma substância que ele produz e que o deixa imune à ação do veneno). Em contrapartida, ele sempre se alimenta em sua ‘casa’, na qual os restos e, até mesmo, alguns pedaços de comida, servem de refeição para a anêmona”, explica o veterinário Francisco Vilardo.