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Parque Estadual da Pedra Branca, no Rio, é uma riqueza ecológica em meio à metrópole

Vista da Pedra do Telégrafo, uma das atrações no percurso do Parque Estadual da Pedra Branca.
Foto: Pixabay

O bioma da Mata Atlântica resiste, mas virou fragmento no meio da grande metrópole.  Ainda assim, surpreendente. As matas que circundam 17 bairros da zona oeste do Rio de Janeiro formam uma das duas maiores florestas urbanas do mundo, com 12.393,84 hectares: o Parque Estadual da Pedra Branca. Uma preciosidade ecológica, que abriga uma grande diversidade da fauna e da flora, mas que sofre com as consequências causadas pelo bicho-homem.

Surpreende também o fato de essa área de preservação ambiental, com tamanha extensão e potencial para trilhas e outras atividades ecoturísticas – com poços, cachoeiras, formações rochosas e sítios históricos-, ainda ser pouco desbravada pelos próprios cariocas. É lá, também, que encontra-se o Pico da Pedra Branca, seu ponto culminante, a 1.024 metros de altitude, e também o mais alto da cidade.

“É possível que o Parque Estadual da Pedra Branca seja o maior parque natural urbano do mundo, e não a Floresta da Tijuca (com 3,2 mil hectares), também localizada no estado do Rio, porque trechos foram incorporados e reflorestados”, conta Celso Sanchez, que é biólogo, professor da UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e organizador do recém-lançado livro “Criando Desde El Sur – Ecofeminismo, Soberania Alimentar, Racismo Ambiental” (Nupem Editora).

Notícias de problemas que ameaçam a conservação dessa unidade ambiental – desmatamento, queimadas provocadas por quedas de balões e ocupação irregular, entre outros – são frequentes, mas há também boas novas que aumentam as esperanças dos conservacionistas. “Recentemente, fez-se um registro da volta da onça-parda para o munícipio justamente nesse parque, que é ‘mãe’ da Floresta da Tijuca. Isso porque as mudinhas que foram usadas no reflorestamento da Floresta da Tijuca vieram de lugares de onde hoje é o Pedra Branca”, comenta o biólogo.

A onça-parda (Puma concolor), também conhecida como suçuarana, era considerada extinta no estado do Rio. O mais recente registro da presença do animal foi feito por câmeras de segurança do Sítio Burle Marx, na região de Barra de Guaratiba.

Núcleo Pau da Fome. Foto: Wikimedia Commons/Reprodução

Espécies ameaçadas de extinção

Apesar do impacto presente em seu entorno, no Parque Estadual da Pedra Branca é possível encontrar diversas espécies endêmicas de flora e fauna, algumas ameaçadas de extinção.

Até agora foram registradas 479 espécies, sendo 43 de peixes, 20 de anfíbios, 27 de répteis, 338 de aves e 51 de mamíferos – além de insetos e outros animais de pequeno porte. O número total de aves registradas para o Estado do Rio é de 653 espécies, das quais 338 podem ser encontradas no Pedra Branca. Destas, 20 espécies estão em risco, como o uru (Odontophorus capueira), o gavião-pombo-pequeno (Amadonastur lacernulatus) e o urubuzinho (Chelidoptera tenebrosa), entre outras.

Entre os mamíferos há espécies como preguiça-comum (Bradypus variegatus), cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), caxinguelê (Guerlinguetus ingrami) e paca (Agouti paca). E outras ameaçadas como Mimon bennetti e Platyrrhinus recifinus. O parque ainda possui uma riqueza de morcegos, que são extremamente importantes para a polinização e dispersão de sementes.

Entre os mamíferos há espécies como preguiça-comum (Bradypus variegatus). Foto: Pixabay

Destaca-se também a presença de anfíbios que são endêmicas das montanhas do Rio de Janeiro, como as rãs arborícolas Hyla albofrenata, Hyla semillneata e Scinax trapicheiroi. Já em relação aos répteis, as espécies existentes são bastante comuns, como a jiboia (Boa constrictor), jararaca (Bothrops jararaca) e cobra-cipó (Chironius exoletus).

Quanto aos peixes, a maior diversidade está distribuída nos rios Paineiras, Sacarrão, Camorim e Prata. Dentre as espécies, cinco encontram-se ameaçadas: Leptolebias minimus, Rivulus janeiroensis, Kryptolebias brasiliensis, Kryptolebias ocellatus e Kryptolebias caudomarginatus.

Reconhecido como área de proteção ambiental desde 1974, atualmente, o parque faz parte do Mosaico Carioca de Unidades de Conservação, instituído pelo Ministério do Meio Ambiente, e também inserido na Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, reconhecida pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Jiboia (Boa constrictor) é um dos répteis comuns na região. Foto: Pixabay

Sem desmatar e sim, conservar

O biólogo e professor Celso Sanchez destaca que o Parque Estadual da Pedra Branca constitui um importante corredor biológico.

“O parque cria um corredor biológico e ecológico entre a Floresta da Tijuca e a Serra do Mar, a região mais próxima do sul fluminense. A posição geográfica do Pedra Branca, do Gericinó-Medanha e da Floresta da Tijuca, infelizmente, está distribuída em fragmentos. Mas, deveria ser um esforço da sociedade fazer com que houvesse um corredor ecológico para que as populações de diferentes espécies de animais e plantas pudessem trocar os seus genes”, observa Celso. Segundo o educador, os corredores ecológicos ajudam justamente no contato entre as diferentes populações da fauna e flora nos diferentes fragmentos florestais. “Cria-se uma maior estabilidade para os ecossistemas e uma maior estabilidade biológica.”

Para Celso, o fato de o estado do Rio contar com duas florestas urbanas, o Parque Estadual da Pedra Branca e a Floresta da Tijuca, é um privilégio. Mas, preservar é necessário, acima de tudo. “É uma imensa sorte nossa (a dos cariocas) ter serviços ambientais oferecidos por esses dois fragmentos florestais significativos da Mata Atlântica como água, manutenção da estabilidade do clima e do solo, áreas de lazer, uma série de elementos que a cidade do Rio possui. É uma pena, no entanto, que o carioca muitas vezes não perceba isso e, às vezes, até desconheça a existência dessas florestas e também não perceba a importância desses fragmentos ambientais para sua vida”, constata.

Entre as ameaças, ele destaca: “Há a prática da soltura de balões, da caça ilegal, do desmatamento em muitas áreas da floresta e até a ocupação da milícia que, por sua vez, é fruto da ausência do poder público em determinadas regiões. E ainda tem a ocupação desordenada do solo urbano, de planos de estruturação urbana como o PEU das Vargens, no qual querem que ali se permita construir prédios e condomínios, sem levar em consideração como deveria os mecanismos de conservação.”

Celso destaca as recentes perdas de investimento na área do meio ambiente. “Ocorreram mudanças nas políticas públicas de cuidado e defesa do meio ambiente, na falta de valorização do quadro técnico específico do campo da biologia, das áreas ambientais nas direções dos parques, das unidades de conservação. Há uma série de elementos que mostra que houve um desmonte das políticas públicas ambientais no Brasil a partir de 2018. Isso é muito ruim e as consequências já podem ser sentidas tanto na Floresta da Tijuca quanto no Parque Estadual da Pedra Branca e no Gericinó-Medanha. E é uma pena, porque a gente vai, sem se dar conta, perdendo um patrimônio que não é só nosso como das futuras gerações”, acrescenta.

Conhecer para preservar

O Parque Estadual da Pedra Branca protege uma vasta e exuberante floresta localizada na zona oeste do Rio. Está distribuído em partes de 17 bairros: Jacarepaguá, Taquara, Camorim, Vargem Pequena, Vargem Grande, Recreio dos Bandeirantes, Grumari, Padre Miguel, Bangu, Senador Camará, Jardim Sulacap, Realengo, Santíssimo, Campo Grande, Senador Vasconcelos, Guaratiba e Barra de Guaratiba.

Entre as múltiplas atrações ao longo dessa unidade ambiental, que estão listadas no guia “Trilhas – Parque Estadual da Pedra Branca”, produzido pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente), estão: a Pedra do Quilombo, cujo cume proporciona uma vista magnífica da Barra da Tijuca e do Maciço da Tijuca; a Serra do Barata, com suas exóticas formações rochosas; o acesso às ‘praias selvagens’ da cidade, em trilhas compartilhadas com o Parque Natural Municipal de Grumari; e a Pedra Branca, ponto culminante do Rio de Janeiro e ponto mediano de uma longa travessia, porém suave, que liga o Pau da Fome, em Jacarepaguá, ao Rio da Prata, em Campo Grande.

Já a “Trilha Transcarioca“, criada nos últimos anos, faz a união de diversas trilhas preexistentes, permitindo que se atravesse a pé quase todo o município do Rio, da Ponta do Picão, em Barra de Guaratiba, ao bairro da Urca, na zona sul.

Como visitar

A sede administrativa do Parque Estadual da Pedra Branca, juntamente com o centro de visitantes, fica no Núcleo Pau da Fome (Estrada do Pau da Fome, 4.003), na Taquara. Existem mais outros dois núcleos para receber os visitantes, na Estrada do Camorim e no bairro de Realengo, além de dois postos avançados, nos bairros de Vargem Grande e de Campo Grande. Mas é preciso agendar a visitação: (21) 2333-5251.

Mais detalhes no site: parquesestaduais.inea.rj.gov.br

Clique aqui para baixar o Guia “Trilhas – Parque Estadual da Pedra Branca”, que cobre 23 trilhas, publicado pelo Inea (Instituto Estadual do Ambiente): http://www.femerj.org/wp-content/uploads/guia_trilhas_pepb.pdf

Confira a galeria de fotos abaixo. Arraste a imagem para o lado: