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Cientistas fazem o diagnóstico das maiores causas do lixo no oceano

Um novo estudo internacional procurou fazer o diagnóstico completo da origem e natureza do lixo que vai parar nas águas oceânicas em todo o mundo. A equipe coordenada pela universidade espanhola de Cádiz foi surpreendida por alguns resultados.

A investigação foi publicada nesta quinta-feira na revista científica “Nature Sustainability” e conclui que uma grande fatia do lixo nos oceanos – em média cerca de 80% – é feita de plástico. Seguem-se metais, vidro, tecidos, papel e madeira processada.

O estudo contou com a colaboração de instituições e organizações não governamentais (ONGs) de 10 países, incluindo Espanha, Estados Unidos, França e Austrália. Os investigadores analisaram e compararam inventários do lixo encontrado em praias, rios, águas costeiras e em mar aberto, tanto na superfície como no fundo, em diferentes locais do mundo.

Concluíram que é nas águas de superfície – como lagos e reservatórios – que o plástico é mais dominante, representando 95% dos lixos encontrados. Essa presença é também importante em zonas costeiras (83%).

Por outro lado, no fundo e nas margens dos rios, boa parte do lixo vem de atividades industriais e domésticas, enquanto que nas praias o consumo de tabaco é a maior fonte de desperdícios – pacotes e embalagens de plástico dos cigarros e isqueiros. Os dados analisados foram recolhidos antes da atual pandemia, mas ainda assim, os materiais ligados à indústria médica e a produtos de higiene foram muito encontrados no fundo do mar junto à costa..

No entanto, o que mais surpreendeu a equipe foi que entre as 112 categorias de lixo analisadas, um pequeno conjunto de apenas 10 representam três quartos de todo o lixo detectado a nível mundial.

“O desperdício ligado ao consumo de comida rápida e de bebidas encomendadas domina largamente o lixo mundial. Sacos de uso único, garrafas, embalagens de comida e invólucros (como os que envolvem chocolates, por exemplo) são os itens de lixo mais encontrados por todo o lado, representando quase metade dos objectos de fabrico humano”, sublinharam os investigadores, em comunicado divulgado pela Universidade de Cádiz.

Porquê tanto plástico?

Além do recurso contínuo a este material, o estudo aponta para três fatores: “Produção irresponsável de bens de plástico descartáveis, comportamento descuidado de alguns utilizadores e falhas nos sistemas de recuperação desses lixos.”

Quanto às soluções possíveis, os investigadores avisaram que há lacunas nos planos de ação, tanto na União Europeia como no Reino Unido, que se baseiam na restrição “de itens de plástico de uso único que são supérfluos ou facilmente substituídos”. “Aqui demonstramos que as restrições ao uso de objetos de plástico como palhinhas, cotonetes e pauzinhos para mexer bebidas, embora prudentes, não lidam ainda com o problema principal”, disse Andrés Cózar, coordenador do estudo e professor da Universidade de Cádiz, citado em comunicado.

Então o que fazer? A aprovação de leis que proíbam o uso de produtos de plástico evitáveis, ligados à compra de bebidas e de comida já feita, é a escolha mais eficaz para reduzir o lixo nos oceanos, acreditam os autores deste novo artigo científico.

Quanto ao uso de objetos considerados indispensáveis nestes consumos, aconselham o reforço da chamada “responsabilidade estendida do produtor”, em conjunto com a criação de taxas de depósito. Estas seriam devolvidas aos consumidores quando estes entregassem os itens, para serem reciclados.

Comparações difíceis

Em comunicado, a equipe alertou ainda que foi difícil comparar a informação disponível no âmbito do estudo. “A nossa ideia inicial era simples, elaborar um ranking dos produtos que mais contribuem para o lixo marinho como referência para as políticas preventivas”, explicou Carmen Morales, investigadora da Universidade de Cádiz. “Mas logo percebemos que não era uma tarefa assim tão simples; tivemos a sorte de contar com o apoio de investigadores e ONGs de todo o mundo, mas a informação existente baseia-se em métodos de amostragem e critérios de classificação muito diferentes.”

A dificuldade para comparar as informações levou à criação de um protocolo de harmonização sistemática para integrar cada uma das grandes bases de dados disponíveis a nível mundial. Em causa esteve a análise de mais de 12 milhões de registos de lixo.

Fonte: Wilder.pt