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Comunidades de espécies costeiras prosperam na ‘ilha do lixo’ do Pacífico

Hidroides costeiros Aglaophenia pluma, um caranguejo de oceano aberto (gênero Planes) e cracas do gênero Lepas colonizando um pedaço de detritos flutuantes. Foto: Reprodução/Instituto Smithsonian

A ‘lata de lixo da humanidade’ não para de crescer no Giro Pacífico Norte. Um colossal depósito de resíduos, que concentra principalmente material plástico proveniente das costas marítimas, se tornou popularmente conhecido como a “Grande Mancha de Lixo do Pacífico’. E, por mais inacreditável que isso possa parecer, há vida prosperando naquele ambiente degradado.

Embora se estenda por 1,6 milhão de quilômetros quadrados de oceano aberto – entre a Califórnia e o Havaí – acredita-se que este aterro contenha 79.000 toneladas métricas de lixo plástico. Recentemente, um estudo publicado na revista Nature Communications, revela que entre escovas de dente velhas, redes de pesca emaranhadas, bolsas e garrafas plásticas flutuantes, espécies que tradicionalmente seriam costeiras estão prosperando e parecem ter encontrado naquelas massas de resíduos plásticos um novo habitat artificial para viver.

Segundo os pesquisadores, existe a possibilidade de essas espécies estarem evoluindo para se adaptarem melhor à vida em meio ao lixo plástico.

Habitat de detritos de plástico como novo lar

Enquanto os cientistas vêm desenvolvendo maneiras de resolver este gigantesco desastre ambiental, no qual grande parte da poluição consiste em microplásticos – pequenos demais para vermos a olho nu – e de detritos flutuantes, como redes ou garrafas, um grande número de espécies marinhas vem prosperando.

“Espécies costeiras como anêmonas, hidroides e anfípodes (pequenos crustáceos semelhantes a camarões) se espalharam muito além do que pensávamos ser possível”, disseram os cientistas.

A investigação da equipe de pesquisadores na Grande Mancha de Lixo do Pacífico começou em 2018, onde coletaram pedaços de detritos para análise. Como as expedições oceânicas são caras, os cientistas confiaram em organizações sem fins lucrativos e grupos de ciência cidadã (prática de envolver não cientistas em projetos de pesquisa científica significativos e práticos) para ajudá-los a coletar os destroços antes de fotografá-los e preservá-los.

De volta à terra, eles identificaram as espécies que viviam no lixo – não apenas sobrevivendo, mas prosperando. “Todos os animais e plantas parecem ter encontrado uma nova maneira de sobreviver no oceano aberto”, destacaram.

Mudanças ecológicas no ambiente marinho

“Os problemas com o plástico vão além da ingestão e do emaranhamento”, disse Linsey Haram, principal autora do artigo e ex-bolsista do Smithsonian Environmental Research Center (Serc). “Os detritos de plástico flutuante estão criando oportunidades para a biogeografia das espécies costeiras se expandir muito além do que pensávamos ser possível.”

Segundo os cientistas, o oceano está acumulando cada vez mais plástico. Atualmente, existem 150 milhões de toneladas métricas de plástico oceânico, com mais oito milhões sendo agregadas a cada ano.

Comunidades neopelágicas

Os pesquisadores apelidaram as novas colônias de vida que descobriram na Grande Mancha de Lixo do Pacífico como “comunidades neopelágicas”. “Neo” significa novo e “pelágico” se refere ao oceano aberto, em oposição à costa. Mas eles não estão cientes das consequências que isso pode ter para a vida marinha atual.

“O oceano aberto não era habitável para organismos costeiros até agora. Em parte por causa da limitação do habitat – não havia plástico lá no passado – e em parte, pensamos, porque era um deserto de comida”, disse Greg Ruiz, cientista sênior do Serc.

Por outro lado, existem ecossistemas que vivem em mar aberto e essas espécies que chegam do litoral podem alterá-los potencialmente.

“As espécies costeiras competem diretamente com as espécies oceânicas”, esclarece Haram. “Elas competem por espaço. Elas competem por recursos. E essas interações são mal compreendidas.”

Como se não bastasse, as novas espécies também puderam viajar no plástico para outras costas, incluindo ilhas vulneráveis ​​e áreas protegidas, mais uma vez rivalizando com as espécies nativas. Em outras palavras, essas espécies exóticas transportadas para habitats delicados podem se tornar espécies invasoras e destrutivas para parques nacionais ou áreas marinhas protegidas.