Ativistas ambientais na COP26, a conferência climática da ONU, escolheram o Brasil como o “Fóssil do Dia” nas negociações desta última sexta-feira em Glasgow, na Escócia, por “seu tratamento horrível e inaceitável aos povos indígenas”.
O prêmio é concedido de forma irônica, uma vez por dia, durante as conferências climáticas da ONU, desde 1999. Membros da Rede de Ação do Clima (CAN, na sigla em inglês) votam em países considerados como tendo feito o “melhor” para bloquear o progresso nas negociações nos últimos dias de negociações.
A escolha de sexta-feira foi feita depois que o presidente Jair Bolsonaro criticou a ativista indígena brasileira Txai Suruí por seu discurso na conferência, na segunda (1º). Ela relatou aos líderes mundiais sobre o impacto que as mudanças climáticas já estão tendo em seu povo.
O presidente não citou a mulher indígena nominalmente, mas afirmou a apoiadores que “levaram uma índia [sic] para lá, para substituir o Raoni, para atacar o Brasil”.
Em comunicado à imprensa, os ativistas da CAN comentam a escolha e dizem que, “infelizmente”, a fala de Txai Suruí “não caiu muito bem em casa, onde ela foi publicamente criticada pelo presidente brasileiro Jair Bolsanaro, por ‘atacar o Brasil’, levando os trolls online a abusar da jovem de 24 anos”.
Eles afirmam, ainda, que ela foi “supostamente submetida a bullying de um funcionário do Ministério do Meio Ambiente do governo brasileiro, que se ergueu sobre ela dizendo que ela ‘não deveria bater no Brasil'”.
Os ativistas continuam dizendo que “esse comportamento desprezível está bem documentado no Brasil”, onde “invasões de terras indígenas dispararam”, “a mineração de ouro selvagem está poluindo os cursos d’água” e “a intimidação é abundante e eles têm um vice-presidente que justificou negar água doce às aldeias atingidas por Covid porque ‘os índios bebem dos rios'”.
‘Esperar que a sanidade seja restaurada’
A CAN também criticou o fato de o presidente brasileiro não ter ido a Glasgow – “preferindo visitar sua casa ancestral na Itália e sair com um líder de extrema direita” –, mas acrescentou, de forma irônica, que a ausência de Bolsonaro “foi na verde uma coisa boa, pois permitiu que os diplomatas do país viessem prontos para se comprometer e até mesmo assinar acordos sobre metano e florestas”.
Na terça-feira (2), o Brasil foi um dos cerca de 100 países que se comprometeram a reduzir as emissões de metano em até 30% até 2030. O país também prometeu acabar com o desmatamento ilegal até 2028 – ignorando, entretanto, os recordes de desmatamento registrados desde o ano passado.
Os ativistas concluem a parte sobre o Brasil dizendo que “tudo o que podemos esperar é que a sanidade seja totalmente restaurada após as eleições, programadas para ocorrer em outubro próximo, e políticas progressistas sejam implementadas para salvaguardar a terra e os direitos dos povos indígenas e proteger o que sobrou das florestas tropicais”.
Fonte: G1