As inacessíveis montanhas da Nova Guiné são a casa de uma nova espécie de ave, que uma equipe de pesquisadores acaba de descrever para a Ciência: o cetim berrypecker (Melanocharis citreola) – denominado, em Portugal, de pica-bagas-de-cetim.
A descoberta, liderada por ornitólogos do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC), foi publicada na revista científica “Ibis”. A ave foi encontrada na floresta de nuvens nas Montanhas Kumawa do oeste da Nova Guiné (província da Papua Ocidental, Indonésia), uma das últimas regiões biologicamente subexploradas do mundo.
Diferenciação de outras aves do gênero
O cetim berrypecker diferencia-se das outras aves do gênero Melanocharis pela coloração da sua plumagem, pela morfologia e por várias diferenças no seu genoma.
Essas aves vivem em florestas bem conservadas, onde se alimentam, principalmente, de pequenos frutos.
A nova espécie de berrubecker foi capturada durante duas expedições, em 2014 e 2017, na região de Lengguru, em uma zona de topografia acidentada. Organizadas pelo Instituto de Investigação para o Desenvolvimento (IRD) da França e pelo Instituto Indonésio de Ciências (LIPI), as expedições deram lugar a numerosas descobertas sobre a diversidade zoológica e botânica da região, tanto terrestre como marinha.
“Em 2014, durante o último dia de amostragens a 1.200 metros nas montanhas Kumawa, capturámos nas redes um macho de cetim berrypecker que pertencia, claramente, a uma espécie não descrita do género Melanocharis”, contou em comunicado Borja Milá, investigador do MNCN-CSIC. “Foi um momento emocionante.”
A partir de então foi organizada uma segunda expedição às montanhas Kumawa, em 2017, para permitir aos pesquisadores recolherem mais dados sobre a nova espécie. “Estivemos um mês acampados a 1.200 metros de altitude e conseguimos mais três indivíduos, dois deles machos imaturos. Claramente ainda nos falta conhecer muito sobre esta e outras aves da Nova Guiné”, acrescentou Milá.
A zona da Papua-Nova Guiné onde foram encontrados os pássaros é uma das menos exploradas do mundo e abriga uma enorme diversidade ainda desconhecida para a comunidade científica.
“As aves são uma exceção, pois estão muito mais bem estudadas que outros grupos taxonômicos como os invertebrados ou as plantas. Por isso, encontrar uma espécie ainda não descrita é muito difícil”, explicou Milá.
Na verdade, esta é apenas a segunda espécie descrita na Nova Guiné nos últimos 80 anos, depois da descrição da ave Melipotes carolae, encontrada nas montanhas Foja em 2005.
Fonte: Wilder.pt