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Empresa de biotecnologia dos EUA planeja liberar 2,4 bilhões de mosquitos geneticamente modificados

Os mosquitos serão machos de Aedes aegypti que não picam. Foto: Pixabay

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos autorizou a liberação de 2,4 bilhões de mosquitos geneticamente modificados na Califórnia e na Flórida. Os mosquitos, criados pela empresa de biotecnologia Oxitec, serão machos de Aedes aegypti que não picam, projetados para produzir apenas descendentes masculinos viáveis, de acordo com a empresa. A Oxitec diz que o plano reduzirá o número do invasor Aedes aegypti, que pode transmitir doenças como zika, febre amarela e dengue.

Os mosquitos fêmeas morrerão, enquanto os machos se reproduzirão e espalharão o gene autolimitante para a próxima geração, levando ao declínio populacional. Embora essas doenças ainda não estejam se espalhando na Califórnia, o inseto invasor foi sinalizado como um risco crescente à medida que seus números aumentam em todo o estado, relata Gabrielle Canon, do periódico ‘The Guardian’.

“Dada a crescente ameaça à saúde que esse mosquito representa nos EUA, estamos trabalhando para tornar essa tecnologia disponível e acessível”, disse o CEO da Oxitec, Gray Frandsen, em comunicado. “Esses programas piloto, nos quais podemos demonstrar a eficácia da tecnologia em diferentes ambientes climáticos, desempenharão um papel importante nesse sentido.”

Os mosquitos também conterão um marcador genético para que os cientistas possam identificá-los facilmente de populações selvagens, segundo a Oxitec .

O experimento é uma extensão de um projeto piloto que a EPA aprovou em 2020, diz a empresa. Em 2021, a Oxitec liberou 144.000 mosquitos geneticamente modificados nas Florida Keys. Também liberou mosquitos no Brasil, alegando que, após 13 semanas, a tecnologia suprimiu 95% do Aedes aegypti.

“É engenhoso”, diz Mustapha Debboun, entomologista médico e veterinário e gerente geral do Distrito de Controle de Mosquitos e Vetores Delta. “Em vez de usar um ser humano para aplicar um pesticida para matar esses mosquitos, estamos usando mosquitos machos para fazer o trabalho por nós… É a natureza contra a natureza.”

Mas os críticos não estão convencidos de que os mosquitos estarão totalmente seguros.

“Não existe 100% de eficácia na ciência”, diz Dana Perls, gerente do programa de alimentos e tecnologia da Friends of the Earth, ao ‘Guardian’. “Ainda assim, o público está sendo solicitado a confiar que o experimento da Oxitec funcionará e que nenhum mosquito fêmea [geneticamente modificado] sobreviverá. Mas como sabemos disso?”

Segundo reportou o ‘The Guardian’, os oponentes estão preocupados com os mosquitos entrando em contato com a tetraciclina, um antibiótico usado na agricultura, que a publicação diz que permitiria que as fêmeas dos mosquitos sobrevivessem.

Os defensores dizem que os mosquitos raramente viajam a mais de 150 metros de onde nasceram. Os regulamentos da EPA exigem que os mosquitos não possam ser liberados dentro de “500 metros de instalações de tratamento de águas residuais, citros comerciais, áreas de cultivo de pêssego, maçã e pêra ou produtores comerciais de gado, aves e suínos”, segundo informou o ‘The Guardian’.

Ainda assim, os críticos dizem que mais testes devem ocorrer em ambientes controlados.
“Uma vez liberados no meio ambiente, os mosquitos geneticamente modificados não podem ser recuperados”, explica o Dr. Robert Gould, presidente da San Francisco Bay Physicians for Social Responsibility, ao periódico ‘Mercury News’. “Em vez de avançar com um experimento genético ao ar livre não regulamentado, precisamos de ações preventivas, dados transparentes e avaliações de risco apropriadas.”