Existem, atualmente, seis espécies vivas de preguiça. Todas têm hábitos arborícolas e são herbívoras (comedora de plantas), de tamanho relativamente pequeno e restritas às florestas tropicais da América Central e do Sul. Mas, centenas de espécies extintas de preguiça – algumas tão grandes quanto um elefante – vagavam por paisagens antigas do Alasca ao extremo sul da América do Sul.
No entanto, um desses animais gigantes, o Milodonte, uma extinta preguiça terrestre gigante que viveu na Patagônia, na América do Sul, há cerca de 10.000 anos, se alimentava de carne e plantas. É o que indica um estudo realizado por um grupo de pesquisadores do Museu Americano de História Natural.
O Milodonte, também conhecido como preguiça terrestre de Darwin (Mylodon darwinii) – que foi nomeada assim após o naturalista Charles Darwin (1809-1882) ter descoberto seus restos na Argentina em 1832 -, tinha entre 3 e 4 metros de comprimento quando de pé sobre as patas traseiras e pesava cerca de 200 kg. Também tinha longas garras e uma pelagem muito grossa que escondia a osteoderme dentro de sua pele, o que formava um tipo de armadura.
“Se eles eram necrófagos esporádicos ou consumidores oportunistas de proteína animal não pode ser determinado em nossa pesquisa, mas agora temos fortes evidências que contradizem a suposição de longa data de que todas as preguiças eram herbívoros obrigatórios”, disse a Dra. Julia Tejada, principal autora do estudo.
Para a pesquisa, os pesquisadores usaram uma abordagem inovadora chamada análise de isótopos específicos de compostos de aminoácidos. Encontrados em diferentes proporções nos alimentos consumidos por um animal, os isótopos de nitrogênio estáveis também são preservados em seus tecidos corporais, incluindo cabelos e outros tecidos queratinosos como as unhas, bem como no colágeno, como o encontrado nos dentes ou ossos.
Ao analisar primeiro os valores de nitrogênio de aminoácidos em uma ampla gama de herbívoros e onívoros modernos para determinar um sinal claro de comer uma mistura de alimentos vegetais e animais, os fósseis podem então ser medidos para determinar os alimentos que consumiram.
Isso oferece aos paleontólogos uma janela única diretamente na dieta dos animais, permitindo-lhes determinar seu nível trófico – sejam eles herbívoros, onívoros de alimentação mista, carnívoros ou consumidores especializados de animais marinhos.
“Os métodos anteriores se baseavam apenas em análises em massa de nitrogênio e fórmulas complexas que têm muitas suposições não testadas ou mal suportadas”, explicou o Dr. John Flynn, pesquisador do Museu Americano de História Natural e da Universidade de Columbia.
“Nossa abordagem analítica e resultados mostram que muitas conclusões anteriores sobre os níveis trópicos são mal apoiadas na melhor das hipóteses, ou claramente erradas e enganosas na pior.”
Os cientistas usaram amostras de sete espécies vivas e extintas de preguiças e tamanduás, bem como de uma ampla variedade de onívoros atuais.
Enquanto a outra preguiça terrestre extinta no estudo, Nothrotheriops shastensis, era provavelmente um herbívoro obrigatório, os dados sugerem que M. darwinii não era e provavelmente consumia uma dieta semelhante à da marta de pinheiro americana moderna – um tipo de doninha encontrado em partes do norte da América do Norte.
O comportamento alimentar (do Mylodon darwinii) se ajusta melhor ao de um onívoro, consumindo material vegetal, mas às vezes também incorporando itens de origem animal em sua dieta, destacaram os pesquisadores.
“Esses resultados, fornecendo a primeira evidência direta de onivoria em uma espécie de preguiça ancestral, exigem uma reavaliação de toda a estrutura ecológica das antigas comunidades de mamíferos na América do Sul, uma vez que as preguiças representaram um componente importante desses ecossistemas nos últimos 34 milhões de anos”, disse a Dr. Tejada.
“Esse seria o caso em particular se, além de Mylodon, outras espécies fósseis de preguiça também tiveram comportamentos alimentares mais versáteis do que se pensava tradicionalmente”, concluiu a equipe.
O estudo foi publico no periódico Scientific Reports.
Fonte: Scientific Reports