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Estudo traz boas notícias para os anfíbios: criar novos charcos ajuda muito na conservação

O sapo-corredor (Epidalea calamita) foi uma das espécies monitoradas. Foto: Canvas

Apesar de várias ameaças como os pesticidas e as alterações climáticas, rãs, sapos e outros anfíbios se beneficiam efetivamente de medidas de conservação da natureza como a construção de charcos (também chamados brejos e banhados), comprova um artigo científico agora divulgado.

Os resultados da pesquisa, realizada por cientistas suíços, foram publicados na PNAS – Proceedings of the National Academy of Sciences e resultam do monitoramento dos anfíbios no cantão de Aargau, no norte do país, entre Basileia e Zurique.

Tal como em Portugal, na Suíça várias espécies de rãs, sapos e salamandras estão em risco de extinção devido a diferentes problemas: a perda dos habitats, doenças mortais provocadas por fungos como o Batrachochytrium dendrobatidis, o uso de pesticidas na agricultura, atropelamentos rodoviários e ainda as alterações climáticas.

Algumas dessas ameaças são difíceis de combater, mas pelo menos a perda de habitats tem agora confirmada “uma solução relativamente simples”, sublinha uma nota publicada pelo WSL – Instituto Federal Suíço para a Pesquisa sobre Floresta, Neve e Paisagem, responsável pela nova investigação em conjunto com o Eawag – Instituto Federal Suíço para a Ciência e Tecnologia Aquáticas.

Apoiada por informação do Centro de Coordenação para a Proteção dos Anfíbios e Répteis da Suíça, a equipe conseguiu provar que “a criação em larga escala de novos charcos beneficia realmente os anfíbios”. Essa conclusão resulta da análise de dados de monitoramento no cantão de Aargau (um dos cantões suíços menos montanhosos), onde mais de 400 novos charcos têm sido criados ao longo de mais de duas décadas foram ganhando novos ocupantes como rãs, sapos e salamandras.

Resultados: entre 1999 e 2019, 10 das 12 espécies de anfíbios monitorados registraram aumentos, uma espécie não se alterou, mas continuou em declínio a nível nacional em Portugal (sapo-parteiro-comum Alytes obstreticans, existente em Portugal) e apenas uma continuou a declinar (sapo-corredor Epidalea calamita, também existente em Portugal). “Ficamos surpreendidos pela clareza dos resultados, especialmente tendo em vista que as outras ameaças não diminuíram entretanto”, explicou Helen Moor, ecologista e pesquisadora do WLS e do Eawag, que liderou o estudo.

Tamanho e quantidade também contam

As conclusões agora divulgadas só foram possíveis devido a um programa de monitoramento de longo prazo das populações de anfíbios em Aargau, que se realiza desde 1999 ao longo dos vales de cinco rios importantes naquela região, com um forte apoio de voluntários. Por sua vez, os cientistas ligados ao projeto “introduzem os dados obtidos em um modelo estatístico complexo”, descreve o WLS.

“Por um lado, o modelo [estatístico] compensa pelos erros que podem ocorrer durante a observação. Por outro, o modelo permite aos pesquisadores preverem como é que a ocupação dos charcos se altera ao longo do tempo.”

Assim, a equipe percebeu que quanto maior é a dimensão de um charco recém-criado, maior é a possibilidade de que venha a receber hóspedes como rãs, sapos e outros anfíbios. A proximidade de florestas também ajuda, tal como a existência de outros charcos próximos.

A rela da espécie Hyla arborea, que ocorre também em Portugal, teve por exemplo uma “recuperação espetacular” no vale de Reusstal, assinalam os pesquisadores na análise. A equipe deverá agora estudar se esse crescimento se deveu apenas aos novos charcos e de onde é que os animais migraram.

Já no caso do sapo-corredor, a única espécie que declinou ao longo dos 20 anos deste estudo, “prefere áreas muito vastas e abertas que são inundadas temporariamente com níveis de água flutuantes”, critérios específicos que “devem ser tidos em conta quando se constroem charcos” e que não terão sido tidos em conta em Aargau, sublinha Helen Moor.

“Embora os relatos negativos da perda de biodiversidade possam ser avassaladores, o nosso estudo mostra que vale a pena aplicar medidas de conservação e que as populações podem recuperar”, destaca a pesquisadora. “Mais cedo ou mais tarde, cada charco que é criado é valioso para os anfíbios.”

O projeto de Aargau tem contado com a parceria e a vontade tanto das autoridades políticas do cantão, como das organizações locais e dos proprietários dos terrenos, nota também a informação divulgada pelo WLS. E no que se refere ao sapo-corredor, os resultados do estudo vão agora traduzir-se na tomada de novas medidas quando se construírem mais charcos.

Fonte: Wilder