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Formigas-saltadoras-de-jerdon encolhem os cérebros para ter a chance de se tornarem rainhas

As formigas-saltadoras-de-jerdon podem pular alto, abater presas e reduzir o tamanho de seus cérebros.
Foto: Clint Penick/Divulgação

A formiga-saltadora-de-jerdon (Harpegnathos saltator), tem muitos talentos. Esse artrópode de 2,5 cm de comprimento, encontrado em planícies aluviais em toda a Índia, tem um salto vertical de dez centímetros e a capacidade de abater presas de quase duas vezes seu tamanho. Se isso não bastasse, essas formigas incríveis também podem ajustar o tamanho de seus próprios cérebros.

Em um estudo , publicado na última quarta-feira na revista “Proceedings of the Royal Society B”, os cientistas descobriram que as formigas-saltadoras-de-jerdons podem encolher seus cérebros em quase 20% e regenerá-los em questão de semanas. Embora outros insetos, incluindo abelhas, tenham a capacidade de aumentar o tamanho do cérebro, a formiga-saltadora-de-jerdons é o primeiro inseto conhecido por ser capaz de aumentar e diminuir o tamanho do cérebro. Os pesquisadores responsáveis ​​pelo estudo dizem que as fêmeas da espécie de formiga usam essa capacidade para preparar seus corpos para a reprodução.

Como a maioria das colônias de formigas, as das formigas-saltadoras-de-jerdons consistem em uma rainha, machos para reprodução e uma classe operária totalmente feminina. A rainha ocupa a posição mais cobiçada da colônia. As rainhas não apenas são servidas por formigas operárias, mas também vivem mais de cinco vezes mais. E em uma colônia típica, a rainha é a única fêmea que pode ter cria.

Para a maioria das espécies de formigas, as rainhas nascem, não são feitas. No entanto, as formigas-saltadoras-de-jerdons são uma espécie que permite às formigas operárias competir por uma chance de se tornarem membros da realeza.

Quando uma formiga-saltadora-de-jerdons rainha morre, cerca de 70% das fêmeas de sua colônia entram em um tipo de torneio que dura até 40 dias, em que as competidoras se atacam com suas antenas até que surja um grupo de cinco a dez vencedoras. Assim que a batalha começa, hormônios agem sobre os corpos das competidoras de modo a aproximá-las da fisiologia de uma rainha e diferenciá-las das outras operárias.

Como a rainha foca toda sua energia na produção de ovos, os pesquisadores sugerem que a alteração do cérebro seja um processo que auxilia na realocação de recursos para a atividade reprodutora — já desempenhada pelas chamadas “pseudorrainhas”, ou gamergates, ainda durante a competição.

Elas também passam a deixar de buscar comida e proteger o formigueiro. “As formigas operárias precisam de um cérebro grande para lidar com essas tarefas cognitivas, mas os gamergates não precisam pensar muito”, explica o principal autor do estudo, Clint Penick, ao “The New York Times”. “Assim que ganham a disputa, elas basicamente tornam-se máquinas de colocar ovos”, completa.

Embora as formigas operárias e gamergates sejam semelhantes em tamanho, sua anatomia interna é muito diferente.

“Se você olhar dentro de seus corpos, poderá ver as enormes transformações pelas quais passam”, disse Clint Penick, .

Os cientistas também realizaram experimentos para verificar a reversibilidade das alterações. E descobriram que as pseudorrainhas perdedoras voltaram à posição original de operárias, assim como sua anatomia interna se restabeleceu.

Eles pegaram algumas pseudorrainhas recém-transformadas e as isolaram de suas colônias. Assim que a colônia determinou uma nova líder, as antigas adversárias foram colocadas de volta. “Eu acreditava que elas provavelmente morreriam, mas em poucos dias elas mudaram novamente. Foi incrível observar que elas eram capazes de expandir seu cérebro completamente, fazendo-o voltar ao mesmo tamanho de antes”, conta Penick ao períodico.

Segundo o pesquisador, a descoberta de que a espécie Harpegnathos saltator apresenta plasticidade tanto na fase larval quanto na adulta traz informações importantes para uma melhor compreensão do controle dessa plasticidade em organismos e de aspectos da epigenética — área que estuda como o comportamento modifica a expressão dos genes. Ainda não se sabe ao certo como se dá a decisão de quem será a nova formiga rainha.

Fonte: The News York Times