A expressão “cérebro de passarinho” pode ganhar todo um novo sentido após pesquisadores alemães concluírem que corvos podem ser tão espertos quanto alguns de nossos ancestrais mais próximos. A descoberta tem o potencial de ajudar a desvendar “um dos grandes mistérios da ciência”, salientaram os cientistas: a evolução da inteligência.
Em um estudo publicado na última sexta-feira na revista “Scientific Reports”, pesquisadores da Universidade Osnabrück e do Instituto Max Planck de Ornitologia (MPIO), na Alemanha, compararam as habilidades cognitivas físicas e sociais de corvos com as de chimpanzés e orangotangos.
Após aplicação de testes experimentais originalmente desenvolvidos para primatas e adaptados para os pássaros, os pesquisadores concluíram que os corvos comuns já haviam desenvolvido habilidades cognitivas plenamente desenvolvidas aos quatro meses de idade, semelhantes às dos macacos adultos na conclusão de várias tarefas.
Os pesquisadores salientaram que este foi o primeiro estudo em “grande escala” das habilidades cognitivas de corvos. O estudo pode fornecer pistas sobre a evolução cognitiva “paralela” entre mamíferos e pássaros, cujas linhas evolutivas teriam se separado há aproximadamente 300 milhões de anos.
Como foram o testes
Oito corvos comuns com idades entre 4, 8, 12 e 16 e criados em cativeiro foram avaliados no Instituto Max Planck (MPIO) de Ornitologia, perto de Munique. Eles foram soltos em um aviário ao ar livre e submetidos ao chamado teste PCTB, sigla em inglês para “Bateria de Testes de Cognição de Primatas”, geralmente usado em macacos de grande porte.
Em um dos testes, por exemplo, um corvo deveria selecionar uma de três xícaras em movimento que escondia uma guloseima, usando seu bico para bicar ou apontar para ela, enquanto um chimpanzé usaria um dedo.
Também foram realizados testes para verificar se as aves compreendiam causalidade, tinham memória espacial e rotacional, podiam se comunicar olhando e apontando e exibiam capacidade mental ao seguir os olhares dos outros corvos.
Já aos quatro meses, as aves demonstraram habilidades cognitivas “desenvolvidas” ao lidar com nove tarefas físicas e seis sociais, disseram as principais cientistas envolvidas no projeto, a professora Simone Pika, da Universidade Osnabruck, e Miriam Sima, do MPIO.
“Aos quatro meses de idade, os corvos jovens já são bastante independentes”, disse Pika.
“Nossos corvos e os primatas de grande porte demonstraram semelhanças consideráveis”, disseram os autores, referindo-se às habilidades cognitivas testadas até os pássaros completarem 16 meses.
Para estudos futuros, os cientistas pretendem desenvolver testes que identifiquem habilidades específicas para cada espécie.
Fonte: Deutsche Welle