A população original de lobos que vivia na Noruega e na Suécia foi exterminada há 50 anos, concluiu um relatório encomendado pelo parlamento norueguês.
Cerca de 12.000 anos atrás, quando os gigantescos mantos de gelo do hemisfério norte estavam recuando completamente, lobos (Canis lupus lupus) chegaram ao que hoje é a Noruega e a Suécia. Com o tempo, esses lobos formaram uma população distinta, adquirindo estruturas mais pesadas e ombros mais profundos em contraste com suas contrapartes eurasianas. Por volta de 1970, entretanto, os lobos selvagens sueco-noruegueses haviam desaparecido, principalmente como resultado da caça humana e dos contínuos conflitos com fazendeiros.
Ou assim parecia. Rumores começaram a circular na década de 1980 de que lobos sueco-noruegueses em cativeiro estavam sendo reintroduzidos na natureza e que a espécie estava voltando. Isso parecia fazer sentido, uma vez que centenas de lobos foram encontrados vivendo ao longo da fronteira sueco-norueguesa. Com seu status incerto, o parlamento da Noruega encomendou um relatório em 2016 para determinar o que realmente estava acontecendo.
Hans Stenøie, diretor do Museu da Universidade da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e primeiro autor do relatório, disse que foram levantadas questões sobre a veracidade da pesquisa anterior. O parlamento norueguês “queria uma nova avaliação da origem genética e geográfica dos lobos noruegueses, usando uma metodologia de ponta”, explicou.
Os resultados preliminares foram apresentados em 2017, mas o relatório final já foi publicado. Liderado por pesquisadores do NTNU, o relatório conclui que a atual população de lobos que agora vive nesta área não é nativa da região, pois veio da Finlândia. A natureza abomina o vácuo, como diz o velho ditado, portanto, com o desaparecimento da população nativa de lobos, os lobos finlandeses puderam expandir seu território e partir imediatamente.
“Fizemos o maior estudo genético de lobos do mundo”, disse Stenøien ao Norwegian SciTech News, que relata notícias de pesquisa da NTNU. A equipe coletou DNA de 1.800 lobos de todo o mundo, especialmente aqueles na Europa, dos quais 72% foram considerados utilizáveis para o estudo. As comparações do genoma inteiro foram realizadas para maiores detalhes. Os resultados mostraram que as populações atuais de lobos que vivem na Noruega e na Suécia são distintas, pois nunca cruzaram com a população nativa agora extinta. O relatório mostra que o lobo original sueco-norueguês realmente se foi, exceto por alguns indivíduos que atualmente vivem em zoológicos.
Resultado de consanguinidade
Mas nem tudo está bem com os expatriados finlandeses. Descobriu-se que a população atual de cerca de 400 indivíduos é geneticamente distinta de seus ancestrais finlandeses, mas o relatório diz que isso não é o resultado de novas adaptações, é o resultado de consanguinidade. O tamanho dessa população de lobos é muito pequeno, levando a uma falta de diversidade genética. O fato de esses lobos serem consanguíneos também pode significar que a população original de lobos substitutos era pequena para começar, de acordo com o relatório. Como a endogamia torna os animais mais suscetíveis a doenças e condições genéticas, os lobos substitutos também podem seguir seus homólogos sueco-noruegueses até a extinção.
Curiosamente, a população substituta mostrou poucos sinais de ter cruzado com cães domesticados. “O [parlamento] norueguês Storting queria saber não apenas a origem genética dos lobos suecos-noruegueses, mas também o grau de hibridização com os cães”, destacou Stenøie. “Mostramos que eles são geneticamente mais semelhantes aos lobos finlandeses e que existem poucos ou nenhum outro lobo no mundo com menos cães em seus genomas”, disse ele, acrescentando que “os lobos suecos-noruegueses são ‘puros’ neste sentido.”
O novo relatório apresentava esses fatos sem qualquer comentário sobre o futuro manejo dos lobos. Isso agora caberá a políticos e grupos de interesses especiais. A reintrodução de lobos é uma questão muito polêmica na Noruega, assim como na América do Norte. Os esforços de reconstrução estão em andamento nos Estados Unidos, incluindo o Parque Nacional de Yellowstone e no Colorado, e também são controversos. Os defensores da reconstrução dizem que é importante reequilibrar a teia alimentar, enquanto os críticos, principalmente fazendeiros e caçadores, se preocupam com seus meios de subsistência.
Fonte: Gizmodo