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Maior berçário de peixes do mundo é encontrado sob o gelo na Antártica

Os peixes-gelo fazem ninhos no mar de Weddell. Foto: PS124 equipe AWI OFOBS/Reprodução

Uma equipe de pesquisadores encontrou a maior área de berçário de peixes do mundo até agora conhecida. O achado ocorreu perto da plataforma de gelo Filchner, que cobre uma área de cerca de 240 quilômetros quadrados no sul do mar de Weddell, na Antártica.

Um sistema de câmeras de reboque fotografou e filmou milhares de ninhos do peixe-gelo (Neopagetopsis ionah) no fundo do mar. A espécie tem esse nome por suas incríveis adaptações evolutivas para suportar as temperaturas congelantes da Antártica. A densidade dos ninhos e o tamanho de toda a área de reprodução sugerem um número total de cerca de 60 milhões de peixes-gelo reprodutores no momento da observação.

Esta descoberta apoia o estabelecimento de uma área marinha protegida no setor atlântico do Oceano Atlântico. A equipe, liderada por Autun Purser, do Instituto Alfred Wegener do Centro Helmholtz de Pesquisa Polar e Marinha (Alemanha), publicou seus resultados na revista científica Current Biology.

Ninhos e mais ninhos de peixe-gelo

A colônia de reprodução foi detectada pelos cientistas em fevereiro de 2021, através de monitores a bordo do navio de pesquisa polar alemão Polarstern, que havia chegado ao mar de Weddell para investigar as correntes oceânicas.

A equipe usou um sistema de câmeras do tamanho de um carro preso à popa do navio e que transmite imagens ao vivo, a mais de 400 km de profundidade, para o convés enquanto ele está sendo rebocado. A descoberta dos ninhos de peixe-gelo foi inesperada.

Eram 3 da manhã naquele cenário de gelo, o que significa que o sol estava alto, mas a maior parte do navio estava dormindo. Para surpresa de uma integrante da equipe, a pesquisadora Lilian Boehringer, do Instituto Alfred Wegener, a câmera continuou a transmitir imagens enquanto se movia com o navio, revelando um horizonte ininterrupto de ninhos de peixes-gelo a cada 20 segundos. “Isso simplesmente não parou. Eles estavam em toda parte”, disse Boehringer.

“Nós vimos ninhos e mais ninhos de peixes nas quatro horas [da expedição] e, durante esse período, cobrimos cerca de seis quilômetros do fundo do mar”, contou Autun Purser, um dos autores do estudo.

Segundo os pesquisadores, os ninhos têm 75 cm de diâmetro e 15 cm de profundidade e um peixe-gelo adulto fica no centro do ninho para cuidar dos ovos azul-claros. A forma côncava dos ninhos provavelmente serve de proteção contra correntes. 

Proteína anticongelante

Os peixes-gelo são os únicos vertebrados que não possuem glóbulos vermelhos. Para sobreviver a temperaturas tão baixas, a espécie desenvolveu uma proteína anticongelante no sangue transparente, que impede o crescimento de cristais de gelo.

Novos insights sobre como os peixes-gelo se reproduzem e como eles contribuem para as teias alimentares polares podem ajudar a gerenciar e conservar as populações.

Os autores do artigo científico argumentam que o novo estudo fornece evidências suficientes para proteger o Mar de Weddell sob a Convenção sobre a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos da Antártica.

“O fundo do mar não é apenas estéril e chato”, observou Autun Purser.

Confira o vídeo