Search

Anuncie

(21) 98462-3212

Mais de 5.000 espécies de aves estão em declínio ou em risco de extinção no planeta

O kākā (Nestor meridionalis) é uma espécie de papagaio da família dos strigopídeos endêmico das florestas da Nova Zelândia. Está ameaçado pela destruição de seu habitat e pela predação por animais invasores.
Foto: Canvas

Mais de cinco mil espécies de aves estão em declínio (com perda continuada de populações) ou em risco de extinção em todo o mundo. No total, estima-se que 48% das 11 mil espécies de aves conhecidas para a Ciência estão passando por uma redução da população, de acordo com um novo levantamento.

O documento revela ainda que 39% (4.295 espécies) mantêm tendências estáveis e apenas 6% (676) mostram tendências de população em aumento. Sobre 7% (778) não existem dados suficientes para definir o seu estado de conservação.

Estes são alguns dos dados da atualização de 2022 do relatório sobre o Estado das Aves do Mundo (State of the World’s Birds), publicado na revista Annual Review of Environment and Resources (edição provisória online de 5 de maio, com edição definitiva prevista para outubro de 2022).

O estudo atualizou alterações na biodiversidade do mundo das aves usando dados da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Perda e degradação de habitats

Os autores do relatório resumem a situação afirmando que “estão ocorrendo quedas assombrosas nas populações de aves em todo o mundo”. Os pesquisadores identificaram a perda e a degradação de habitats naturais, a exploração direta de muitas espécies e as alterações climáticas como as maiores ameaças.

“Estamos hoje presenciando os primeiros sinais de uma nova vaga de extinções de espécies de aves com distribuição continental, depois da perda histórica das espécies das ilhas, como o Dodô”, disse o principal autor do relatório, Alexander Lees, da Universidade Metropolitana de Manchester e pesquisador associado no Laboratório de Ornitologia de Cornell. Ele acrescentou: “A diversidade de aves alcança o seu ponto máximo a nível mundial nos trópicos e é ali onde também encontramos a maior quantidade de espécies ameaçadas.”

Estima-se que 90% das espécies de aves que se extinguiram desde 1500 até hoje, em um total de 187 espécies, são insulares, ou seja, viviam em ilhas. Essas extinções aconteceram em regiões como o Havaí, Austrália, Nova Zelândia e Polinésia Francesa. A principal causa foi a introdução de mamíferos nessas ilhas, como os ratos (que estão ligados à extinção de 52 espécies de aves) e os gatos (40 espécies).

Os autores destacam a preocupante situação atual, mas também dão lugar à esperança. Ainda que sublinhem que para recuperar populações e salvar espécies da extinção é preciso mudanças realmente transformadoras na relação dos humanos com a natureza.

Entre os seis exemplos de espécies de aves que foram alvo de projetos de conservação de sucesso está o priolo (Pyrrhula murina), ave endémica da ilha açoriana de São Miguel. Tempos atrás, já foi a ave mais ameaçada da Europa. Hoje a sua população está estável. “A população começou a recuperar graças ao restauro da floresta Laurissilva nativa, o controle de plantas invasoras e a criação de pomares”, explicam os autores.

“O destino das populações de aves depende, em grande parte, de conseguirmos travar a perda e a degradação dos habitats. Isto é, frequentemente, causado pela procura por recursos, incluindo alimentação”, detalha Lees.

“As decisões que tomamos sobre o que vamos almoçar, onde e como foi produzido reverberam por todo o planeta e no futuro. Precisamos considerar melhor como os fluxos de produtos básicos podem contribuir para a perda de biodiversidade e precisamos tentar mitigá-los.”

O relatório é assinado por nove autores da Universidade Metropolitana de Manchester, do Laboratório de Ornitologia de Cornell, Birdlife Internacional, Universidade de Joanesburgo, Pontifícia Universidad Xavierian e da Fundação para a Conservação da Natureza.

Leia mais: Dodô: uma lembrança icônica da extinção causada pelo homem