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Mineração em mar profundo: pesquisadores comprovam que há muitos animais afetados nessas áreas

Peixes e outros organismos habitam zonas profundas.
Foto: Canva

Uma equipe internacional de cientistas investigou quais foram os efeitos ambientais de uma experiência de extração de cobalto em mar profundo, realizada em 2020 no Japão, após um ano. Os resultados, que apontam para impactos muito negativos sobre os animais oceânicos, foram publicados pela revista científica Current Biology.

Os cientistas concluíram que “as áreas diretamente exploradas se tornaram menos habitáveis para os animais do oceano”, mas também que “a mineração também criou uma pluma de sedimentos que pode se espalhar na água ao redor”, explica um comunicado à imprensa sobre o estudo.

Esta foi a primeira experiência bem sucedida de mineração realizada no Japão. O cobalto é um minério utilizado nas baterias dos carros eléctricos e um dos recursos que mais despertam a atenção das companhias que pretendem explorar os recursos do mar profundo, tal como o chumbo e o manganésio.

Travis Washburn, primeiro autor deste estudo e pesquisador ligado ao Geological Survey of Japan, sublinha que “é muito importante que esta informação seja conhecida”, uma vez que estão em curso negociações para que em breve sejam definidas as regras que se vão aplicar à mineração oceânica, a nível internacional. Esta regulamentação está nas mãos da ISA – International Seabed Authority (em português, Autoridade Internacional para o Leito Marinho), composta por 167 Estados-membros e pela União Europeia.

No último sábado, o ministro português da Economia e do Mar anunciou que Portugal votou contra a mineração em mar profundo, no âmbito das negociações em curso na ISA. “Temos que fazer uma pausa precaucionária e penso que somos acompanhados por múltiplos países no mundo e, portanto, o que exigimos é a clarificação do quadro regulamentar e sobretudo o desenvolvimento de maiores atividades na área da investigação científica, do conhecimento científico, prevendo todas as lacunas, preenchendo todas as lacunas que existem”, adiantou António Costa e Silva.

No estudo científico agora publicado pela revista Current Biology, os quatro cientistas envolvidos analisaram a informação recolhida um mês antes das operações no local onde foi extraído cobalto, um mês depois e um ano depois. Das três vezes, após uma viagem de barco que demorou sete dias depois da saída do porto, um veículo operado remotamente foi lançado pela equipe e fez filmagens submersas no local.

Um ano após os trabalhos de mineração, os pesquisadores observaram uma quebra de 43% na densidade de peixes e de crustáceos na zona diretamente afetada pela poluição provocada pelos sedimentos. Mas mais do que isso, registaram uma descida de 56% da densidade destes dois grupos de animais nas áreas ao redor. “Embora existam várias explicações possíveis para esta redução nas populações de peixes, a equipe considera que tal se deve à contaminação das fontes de alimento dos peixes pelo teste de mineração”, destaco o comunicado.

Por outro lado, não foram observadas grandes alterações em animais menos móveis, como esponjas e corais, mas os pesquisadores acrescentam que o teste em causa durou apenas duas horas, pelo que uma operação mais prolongada poderá afetar igualmente essas espécies.

“Eu tinha afirmado que não veríamos qualquer mudança porque o teste de mineração foi tão pequeno. Utilizaram a máquina durante duas horas e a pluma de sedimentos deslocou-se apenas algumas centenas de metros”, indicou ainda Travis Washburn. “No entanto, isso foi suficiente para mudar as coisas.”

Segundo a equipe, este estudo terá de ser repetido várias vezes para haver um conhecimento mais aprofundado sobre os efeitos das operações de mineração no fundo do oceano. Idealmente, deveriam ser recolhidos dados em um local ao longo de vários anos antes que aí fosse realizado um teste de mineração, para os cientistas poderem ter em conta quaisquer alterações que aconteçam naturalmente nas comunidades de animais dessa zona.

“Vamos ainda assim precisar de mais informação, mas este estudo coloca em destaque uma área que precisa de mais atenção”, afirmou ainda o mesmo pesquisador. “Vamos ter de analisar este assunto em um nível mais abrangente, porque estes resultados sugerem que o impacto da mineração no mar profundo podem ser maiores do que pensávamos.”

Fonte: Wilder