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Pantanal é a maior área úmida de água doce do mundo e está ameaçado

Desmatamento e queimadas descontroladas estão entre as principais ameaças ao bioma.
Foto: GOVMS/Fotos Públicas

A expansão da agricultura ribeirinha, o uso de agrotóxicos, a multiplicação de projetos de infraestrutura (hidrelétricas, hidrovias), além do desmatamento e das queimadas descontroladas, são as principais ameaças ao bioma

A emergência de incêndios no Pantanal, até outubro de 2020, teria devastado cerca de 3,4 milhões de hectares, o equivalente a 23% do bioma. As espécies endêmicas de animais e plantas podem ter sido perdidas para sempre

O Pantanal é a maior área úmida de água doce do mundo, compartilhando sua extraordinária riqueza de biodiversidade em três países: Brasil, Bolívia e Paraguai em uma área estimada de 340.500 quilômetros quadrados. Três grandes ecossistemas convergem no Pantanal – Cerrado, Floresta Seca de Chiquitano e Chaco – que sustentam uma das maiores concentrações de vida selvagem da América Latina.

Além da riqueza de espécies da fauna e da flora, o Pantanal também oferece serviços ambientais subvalorizados adicionais, como manutenção e purificação de mananciais necessários às múltiplas necessidades humanas, proteção dos recursos do solo, habitats de plantas e animais de valor comercial, controle biológico , recarga de aquíferos e regulação do clima local. Seus habitantes agregam um tesouro adicional que é a riqueza cultural da região.

Como muitos ecossistemas de água doce, o Pantanal constitui uma unidade interdependente que deve ser considerada como um todo e qualquer evento adverso provavelmente afetará o restante da ecorregião.
A alta produtividade do Pantanal mantém um grande número de espécies da macrofauna de grande importância para as comunidades locais. Também permite o desenvolvimento de práticas de ecoturismo e é fonte de recursos genéticos. As principais atividades da região são a pecuária e a pesca.

Pantanal ameaçado

Bolívia, Brasil e Paraguai compartilham as mesmas ameaças no Pantanal, muitas delas de origem humana, e outras como as alterações de ecossistemas causadas pelas mudanças climáticas. As principais ameaças decorrem da expansão da agricultura nas proximidades dos rios, do uso de agrotóxicos ou da multiplicação de projetos de infraestrutura (hidrelétricas, hidrovias), além do desmatamento e das queimadas descontroladas.

Bioma em chamas

Em 2020, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil, que gera dados oficiais sobre incêndios no território, incêndios foram detectados em número recorde no Pantanal. Até 2020, mais de 22 mil fontes de calor foram detectadas no Pantanal brasileiro, um aumento de 121% em relação a 2019. Mais de 4 milhões de hectares foram queimados, atingindo mais de 26% do bioma. Foi o maior número de incêndios desde o início do monitoramento do INPE, em 1998.

O território do Paraguai também foi afetado por incêndios massivos e de alta complexidade, como em 2019. Soma-se a isso a pior seca dos últimos 50 anos e ondas de calor extremas com temperaturas nunca registradas, atingindo 43 graus por dois dias consecutivos em quase todo o país. Por sua vez, na Bolívia, segundo dados da Fundação Amigos da Natureza, durante o ano de 2020, 2,3 milhões de hectares foram afetados por incêndios florestais. 23% das áreas afetadas estão localizadas em áreas protegidas.

Duas das maiores áreas protegidas nacionais do país (aproximadamente 4 milhões de ha.) são encontradas no Pantanal boliviano, o Parque Nacional Otuquis e a Área Natural de Manejo Integrado San Matías que foram impactados pelo fogo. Estas foram combatidas com o apoio dos órgãos de proteção fortalecidos técnica e logisticamente como brigadas de primeira resposta com o apoio do WWF Bolívia e da FAN.

Até outubro, as chamas no Pantanal teriam devastado cerca de 3,4 milhões de hectares desde o início do ano passado, o equivalente a 23% do bioma. As espécies endêmicas de animais e plantas podem ter sido perdidas para sempre. O incêndio, causado muitas vezes, tornou-se um problema transfronteiriço que afeta os três países.

As consequências do fogo

O fogo nessas dimensões e frequência causa um grande desequilíbrio na fauna e na flora do Pantanal. Segundo levantamentos realizados por pesquisadores da região, o bioma possui 2.000 tipos de plantas e abriga diversas espécies de aves (582), mamíferos (132), répteis (113) e anfíbios (41). A situação também cria problemas de saúde significativos para as pessoas que vivem na região e arredores.

Há relatos de moradores da região onde manifestaram dificuldade para respirar e muitos tiveram que deixar suas casas e perder o sustento devido à propagação do fogo. Ainda segundo especialistas, o Pantanal enfrentou uma série de problemas que favoreceram o rápido avanço do incêndio em 2020. Entre outubro e março, período das chuvas, o bioma teve um volume de chuvas 40% menor que a média do mesmo período dos anos anteriores, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).

O Rio Paraguai é um elemento chave no funcionamento do Pantanal pelas inundações, no período das cheias, vastas áreas do Pantanal e pela seca, portanto o rio registrou o nível mais baixo das últimas décadas.

Vários estudos também relacionam a seca do Pantanal ao aumento do desmatamento na Amazônia, que em 2019 aumentou 85% e em 2020 continuou em níveis alarmantes. Isso porque parte da umidade que o Pantanal recebe vem da maior floresta tropical do planeta por meio de um fenômeno denominado “rios voadores”. São massas de ar carregadas de vapor d’água que vêm do Oceano Atlântico trazidas pelos ventos alísios e atingem a Amazônia e depois seguem para o sul, passando pelo Pantanal.

O WWF atua na área há mais de 20 anos, trazendo ferramentas de participação social, planejamento territorial e sistemas produtivos resilientes às mudanças climáticas. Com o apoio da União Europeia, no projeto PaSoS, mais de 170 mil hectares foram atingidos por programas de boas práticas pecuárias, mais de 1000 pessoas foram formadas em gestão ambiental, houve a criação e formação de mais de seis brigadas de combate para incêndios e reativação de oito conselhos de áreas protegidas.

“A natureza não conhece fronteiras. O WWF está comprometido com um trabalho trinacional para a conservação e proteção deste bioma que, pela sua biodiversidade, sua paisagem e os serviços ecossistêmicos que oferece, é de grande importância para a humanidade. O fortalecimento de áreas protegidas, o desenvolvimento de capacidades, o ordenamento do território, a gestão com diversos setores, inclusive o privado, são algumas das tarefas que temos implementado nos últimos anos como parte da Estratégia Trinacional de Conservação do Pantanal”, mencionou Cassio Bernardino Coordenador do programa Cerrado-Pantanal do WWF.

Fonte: WWF-Brasil