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Patos podem ajudar plantas a enfrentar as alterações do aquecimento global

Patos-reais são vitais para dispersar as sementes de muitas plantas terrestres. Foto: Canvas

As aves aquáticas têm um papel crucial para ajudar as plantas a enfrentar as alterações climáticas, por permitirem que estas se movam para latitudes mais frias durante a migração da primavera, conclui um novo estudo científico publicado na revista Global Ecology and Biogeography.

Sabe-se que as aves cuja dieta é à base de frugívoras, como os tordos ou os melros – dispersam as sementes dos frutos ao ingeri-las e expulsá-las pelas fezes.

Mas até agora presumia-se que as sementes das plantas que não têm bagas (frutos carnudos) eram incapazes de dispersar-se através das aves.

“Este novo estudo mostra, no entanto, que patos como os patos-reais (Anas platyrhynchos) –, dos quais já se conhecia o seu papel como dispersores de plantas aquáticas –, são vitais para dispersar as sementes de muitas plantas terrestres, especialmente durante a migração da primavera quando se dirigem para o Norte até às suas áreas de reprodução”, explicou, em comunicado, Andy Green, da Estacão Biológica de Doñana – CSIC e um dos pesquisadores envolvidos no estudo.

A migração que as aves fazem na primavera é, precisamente, o evento que permite às plantas mudar a sua distribuição e compensar o aquecimento global. A capacidade das aves frugívoras para transportar as sementes nesta direção, até destinos mais frios, é limitada já que se alimentam dos frutos das árvores e arbustos durante a migração de outono, quando se dirigem para locais mais quentes onde vão passar o inverno.

Pelo contrário, segundo o estudo, os patos são capazes de transportar as sementes na primavera, quando se dirigem a destinos mais frios. Até agora não se sabia que podiam fazê-lo, já que a migração da primavera acontece antes que as plantas produzam sementes.

“No entanto, este estudo contrasta com esta ideia, já que as aves aquáticas não recolhem as sementes diretamente das plantas, mas sim as ingerem meses depois de elas se reproduzirem, especialmente quando as filtram dos sedimentos dos lagos”, explicou Adam Lovas-Kiss, pesquisador do Instituto de Ecologia Aquática do Centro de Investigação Ecológica da Hungria.

Neste estudo, a equipe recolheu amostras dos excrementos de patos-reais durante um ano em um dos maiores lagos da Hungria, o lago Velence, para onde se sabe que os patos-reais migram até 2.300 quilômetros entre as suas áreas de reprodução e da invernada.

Comparando com outras épocas do ano, na primavera dispersaram-se mais espécies de plantas através dos excrementos, enquanto que no inverno se encontrou um número maior de sementes por deposição.

Além disso, os pesquisadores observaram mais sementes de plantas terrestres do que aquáticas na primavera, enquanto que em outras estações do ano, as sementes de plantas aquáticas foram as dominantes.

No total, a equipe recolheu mais de 600 deposições e recuperou mais de 5.000 sementes, o que indica que um grande número de sementes conseguiu sobreviver através do aparelho digestivo da ave. Além disso, 40% do total de sementes conseguiu germinar depois em laboratório, o que indica que o processo de dispersão que as aves fazem é viável.

Até agora, a Ciência não sabia muito sobre a capacidade das relações entre os patos e muitas plantas. Os patos obtêm energia digerindo algumas sementes e, ao mesmo tempo, as plantas conseguem que algumas das suas sementes sejam dispersadas para novos habitats.

“Os patos-reais são bem conhecidos. São uma espécie com uma distribuição muito ampla e que encontramos muitas vezes em parques da Europa. Muitas pessoas as consideram uma espécie recreativa e são um recurso cinegético (de caça). Mas há cada vez mais provas de que também têm um papel importante como dispersores de sementes”, conclui Adam Lovas-Kiss.

“Até agora acreditava-se que estas espécies de plantas apenas podiam dispersar-se por escassos metros, o que não seria suficiente para compensar o avanço das alterações climáticas. Mas estas aves podem dispersar sementes ao longo de centenas de quilômetros durante a sua migração. Os patos estão, por isso, oferecendo um serviço ecossistêmico vital que está ajudando os ecossistemas a adaptarem-se às alterações drásticas associadas ao aquecimento global”, notou Andy Green.

Fonte: Wilder