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Pesquisadores sequenciam o genoma do sapo-de-unha-negra, crucial para saber mais sobre alterações climáticas

Sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes). Foto: Estação Biológica de Doñana/CSIC

Na última década, o sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes) tornou-se um modelo de estudo em ecologia graças à sua enorme capacidade para enfrentar desafios. Agora foi sequenciado o seu genoma, algo crucial para investigar como os organismos respondem às alterações climáticas.

O genoma do sapo-de-unha-negra foi sequenciado com alta resolução por uma equipe de cientistas da Espanha liderada pela Estação Biológica de Doñana – CSIC, em colaboração com o Centro Nacional de Análisis Genómico (CNAG-CRG) espanhol e o Centro Nacional espanhol de Supercomputación (BSC-CNS).

Os anfíbios, o grupo de vertebrados mais ameaçado do planeta, têm um papel fundamental nos ecossistemas e servem de ligação entre sistemas aquáticos e o meio terrestre que os rodeia.

Esses animais podem ter genomas grande e complexos e por isso o número de genomas conhecidos a nível de resolução de cromossomas é muito reduzido. Apenas ainda foi descrito o genoma de 12 espécies de anfíbios, o que supõe menos de 0,5% do total dos anfíbios, segundo o Centro Nacional para a Informação Biotecnológica dos Estados Unidos.

Esta situação contrasta com outros grupos como o das aves, para o qual já está descrito o genoma de mais de 500 espécies, ou seja, 5% do total. Ou o dos mamíferos, que conta com mais de 460 espécies com genomas sequenciados (representando 7% do total).

“Os anfíbios são um grupo de estudo perfeito para realizar estudos genômicos”, explicou, em comunicado, Iván Gómez-Mestre, pesquisador da Estação Biológica de Doñana. “Muitas vezes, representam linhagens muito antigas que conseguiram ocupar a maior parte das regiões do mundo. E diversificaram-se tanto, que evoluíram até apresentarem um grande número de modos reprodutivos diferentes e variarem muito no tamanho e estrutura dos seus genomas”, acrescentou.

O sapo-de-unha-negra, o protagonista deste trabalho, é, também uma espécie de estudo interessante para entender de que forma os organismos podem responder às alterações climáticas.

Este anfíbio, que vive especialmente na Península Ibérica e em algumas regiões do Sudoeste de França, consegue ajustar o seu comportamento, morfologia e fisiologia perante grandes alterações no meio onde se encontra.

Por exemplo, o mesmo grupo de cientistas que acaba de sequenciar o seu genoma descobriu que esta espécie é capaz de acelerar o seu desenvolvimento até 30% quando percebe o risco de a água desaparecer do meio aquático onde se está se desenvolvendo. Este risco está se agravando cada vez mais, dado que as alterações climáticas estão causando menos precipitação e períodos de inundação mais curtos para os brejos ou atoleiros temporários onde a espécie vive.

“O sequenciamento do genoma desse anfíbio vai permitir aos cientistas compreender a estrutura genética das populações naturais, entender como as variações ambientais induzem alterações nos níveis de expressão dos seus genes e como se relaciona o tamanho com a complexidade dos genomas”, explicou Christoph Liedtke, pesquisador da Estação Biológica de Doñana. 

Fonte: Wilder