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Tráfico de animais e atropelamento: as ameaças invisíveis à fauna

Estima-se que mais de 400 milhões de animais silvestres morram atropelados todo ano nas rodovias brasileiras. Imagem: IA Google

O Brasil, lar da maior biodiversidade do planeta, enfrenta uma dupla crise que coloca a fauna em risco: o tráfico de animais e atropelamento. A cada ano, milhões de vidas silvestres são perdidas nas estradas do país, somando-se ao impacto devastador do comércio ilegal que esvazia ecossistemas inteiros. Entender essa ameaça invisível é o primeiro passo para a conservação, uma vez que a dimensão do problema é tão vasta que muitos crimes e acidentes acontecem de forma silenciosa, longe dos olhos do grande público.

Primeiramente, o Brasil detém o título trágico de campeão mundial em mortes de animais por colisões com veículos. Estima-se que mais de 400 milhões de vertebrados silvestres morram atropelados todo ano nas rodovias e estradas brasileiras, segundo pesquisadores da área [1]. Este número catastrófico não inclui a vasta quantidade de insetos e invertebrados. O problema vai muito além do óbvio, pois a perda dessas espécies gera um desequilíbrio profundo nas cadeias alimentares, afetando a dispersão de sementes e a dinâmica de predadores, como a onça-pintada (Panthera onca) e o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus).

O drama do atropelamento de animais nas estradas

O cenário das rodovias brasileiras se tornou uma das maiores causas de mortalidade não natural para a fauna. O crescimento da malha rodoviária, em outras palavras, a fragmentação do habitat, força os animais a atravessarem as pistas em busca de alimento, parceiros ou território. Por exemplo, espécies de pequeno porte como o tatu (Dasypus) e o quati (Nasua nasua) são as vítimas mais frequentes, mas o problema atinge até os grandes mamíferos.

Acima de tudo, a crise dos atropelamentos é agravada pela falta de estruturas de mitigação adequadas. A construção de passarelas para fauna (ecodutos) e cercas direcionadoras poderia reduzir drasticamente esses números. Além disso, a alta velocidade permitida em trechos críticos e a ausência de sinalização adequada para travessia de fauna transformam as estradas em armadilhas mortais.

Por que 400 milhões de animais são atropelados?

A causa principal é a fragmentação dos habitats pelas rodovias, que obrigam os animais a cruzar o asfalto em busca de recursos vitais. Nesse sentido, essa alta taxa se deve à má infraestrutura viária e à falta de planejamento, que não preveem passagens seguras para a fauna. Animais como a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) têm rotas de deslocamento fixas, e a ausência de cercas direcionadoras ou túneis ecológicos os leva diretamente à pista, resultando na perda desses 400 milhões de indivíduos por ano.

Tráfico de animais: a prática criminosa silenciosa

Em seguida, temos o tráfico de animais e atropelamento ligados por um fator comum: a destruição da vida silvestre. O tráfico é um crime complexo e global. No Brasil, ele move milhões, drenando a fauna de biomas como a Caatinga, o Cerrado e a Amazônia. Espécies exóticas, nativas, aves de canto e mamíferos são retirados de seus lares e vendidos ilegalmente, muitas vezes em mercados internacionais.

Nesse sentido, o comércio ilegal tem um impacto terrível. Ele não apenas retira os indivíduos da natureza, mas também destrói habitats inteiros no processo de captura. Do mesmo modo, a demanda por animais “exóticos” impulsiona a atuação de redes criminosas que, frequentemente, agem com violência e desrespeito às leis ambientais, muitas vezes interligadas a outros crimes.

A arara-azul-de-lear e outras espécies em risco

O caso da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) é um exemplo claro de como o tráfico afeta espécies altamente vulneráveis. O roubo de ovos e filhotes dessa espécie rara, encontrada principalmente na Caatinga baiana, é uma das maiores ameaças. Consequentemente, as ações dos traficantes destroem ninhos e derrubam as árvores que servem de abrigo, gerando uma perda ainda maior para o ecossistema.

É importante notar que a lista de animais ameaçados pelo tráfico é extensa e inclui o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), papagaios e até répteis. A alta demanda internacional exige a articulação entre diferentes países, tornando o combate ao tráfico de animais e atropelamento uma questão complexa de segurança e conservação. Em outras palavras, a luta contra o comércio ilegal de espécies é fundamental para manter a biodiversidade brasileira.

Estratégias de conservação e o papel da sociedade

Felizmente, a sociedade e as instituições estão reagindo. Iniciativas como a criação de novos Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), como o recente acordo no Rio Grande do Sul [2], são cruciais para reabilitar e soltar animais feridos — incluindo vítimas de atropelamento e resgates de tráfico.

Por fim, o esforço para combater o tráfico de animais e atropelamento requer ações coordenadas. É preciso dizer que a fiscalização nas fronteiras e nas rodovias, o investimento em tecnologia de monitoramento de fauna e, principalmente, a conscientização da população são as chaves. Reduzir a demanda por animais silvestres como pets e dirigir com atenção nas estradas são atitudes simples, mas vitais para a sobrevivência da nossa fauna.

Notas:

  • [1] Dados frequentemente citados em publicações sobre conservação e ecologia de estradas no Brasil, com base em estudos como os do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE).
  • [2] Referência a notícias recentes sobre a criação ou reativação de um Cetas no Rio Grande do Sul (em parceria com o IBAMA e universidades) para atendimento da fauna.

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Por MB.

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