Quando um asteroide colidiu com a Terra há cerca de 66 milhões de anos, ele desencadeou uma série de eventos terríveis – além do extermínio dos dinossauros. Ocorreram ondas de choque, incêndios, chuva ácida, tsunamis, erupções vulcânicas e outros fenômenos climáticos – que mataram cerca de 80% de todas as espécies animais. Mas, misteriosamente, alguns dinossauros sobreviveram e ainda vivem entre nós: os pássaros.

Mas, por que algumas linhagens de pássaros resistiram ao impacto devastador, enquanto outras pereceram? Uma nova pesquisa científica sobre um crânio de pássaro antigo bem preservado sugere que as espécies que sobreviveram ao cataclismo tinham cérebros maiores, ou prosencéfalos – a região frontal do órgão.

Embora não esteja claro exatamente como o prosencéfalo maior ajudou as aves a sobreviver, possivelmente, tinha a ver com a plasticidade comportamental. “As aves com prosencéfalos maiores, provavelmente, poderiam modificar seu próprio comportamento rápido o suficiente para acompanhar as mudanças de ambiente ao redor”, disse Chris Torres, pesquisador principal do estudo da National Science Foundation, no Heritage College of Osteopathic Medicine da Ohio University, nos Estados Unidos.

O estudo foi publicado no dia 30 de julho deste ano na revista Science Advances e apresentado online em 2 de novembro na conferência anual da Society of Vertebrate Paleontology, que é virtual este ano devido à pandemia de COVID-19.

Ossos raramente fossilizam

Ossos de pássaros são delicados e raramente fossilizam bem ou em três dimensões. O que significa que os cientistas quase nunca dão uma boa olhada nas caixas cranianas de pássaros antigos, a parte interna do crânio onde ficava o cérebro. Mas, alguns anos atrás, os pesquisadores encontraram um fóssil parcialmente bem preservado do pássaro Ichthyornis, que viveu durante o período Cretáceo, em uma formação rochosa que data de 87 a 82 milhões de anos no Kansas, nos EUA.

“Ele tem um crânio quase completo, o que é incrivelmente raro tanto para esta espécie em particular (Ichthyornis) quanto para pássaros fósseis em geral”, destacou Torres. “Este novo fóssil preserva a maioria dos ossos que compõem o crânio, fornecendo nossas primeiras análises completas de muitos desses ossos.”

Então, Torres e seus colegas usaram tomografia computadorizada e raios-X para reconstruir digitalmente o esqueleto facial e a estrutura cerebral do Ichthyornis. Uma análise da forma do cérebro revelou que pássaros antigos como o Ichthyornis tinham um órgão “antiquado”. Seu cérebro era mais parecido com o de dinossauros do que com o de pássaros modernos.

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Talvez este grande prosencéfalo tenha dado ao ancestral dos pássaros de hoje uma vantagem evolutiva que os ajudou a sobreviver à mudança climática global catastrófica que provavelmente ocorreu durante a extinção em massa. “O que ajuda a explicar por que apenas pássaros [vivos] existentes, e não quaisquer outros tipos de dinossauros, conseguiu sobreviver”, disse o cientista.

No entanto, o cérebro do Ichthyornis tinha uma característica surpreendente: um hiperpálio. Essa estrutura, anteriormente conhecida apenas por pássaros que viveram após a extinção em massa, é considerada um centro de processamento visual e sensorial que desempenha um papel no voo. A descoberta de um hiperpálio em um pássaro do período Mesozoico, ou da idade dos dinossauros, revela que os cérebros dos pássaros antigos eram mais complexos do que se pensava.

A análise da estrutura cerebral mostra que os cérebros das aves não evoluíram em uma progressão nítida ao longo do tempo, mas se desenvolveram como um mosaico complexo de estruturas cerebrais.

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Fonte: Live Science