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Arqueólogos descobrem fóssil raro de camarão pré-histórico dentro de um molusco

Camarões se instalaram em molusco. Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Há cerca de 100 milhões de anos, quando os dinossauros ainda vagueavam pelo planeta, três pequenos camarões partiram à procura de casa. Talvez precisassem de abrigo contra predadores porque estavam longe da proteção dos recifes de coral, e optaram por um grande molusco – um vongole, também conhecido como amêijoa gigante. Não era o maior casa das redondezas, mas era um lar aconchegante com cerca de 25 centímetros de largura.

Quando os camarões se instalaram, o novo lar foi rapidamente inundado com lodo e lama. O suposto abrigo transformou-se de repente no seu túmulo. E os camarões lá ficaram até 2016, quando um agricultor australiano os encontrou. A amêijoa fossilizada com os três camarões, cada um com cerca de 3 centímetros de comprimento, está agora no museu Kronosaurus Korner da Austrália.

Descrito recentemente na revista Paleogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, este fóssil representa o exemplo mais antigo de um camarão a usar outra criatura (ou a usar a casa de outra criatura) como abrigo – algo que os camarões ainda fazem atualmente. Este comportamento, conhecido por inquilinismo, também é observado em muitos outros animais, tanto em terra como no mar.

Como os camarões fossilizaram inteiros, provavelmente estavam vivos quando a casca foi rapidamente inundada com lama, talvez durante um sismo ou tempestade intensa. Se os camarões tivessem entrado na casca depois de morrerem, não estariam intactos. “Os camarões são bastante delicados”, diz René Fraaije, diretor do museu de história natural Oertijdmuseum dos Países Baixos, que não participou no estudo. “Quando encontramos espécimes completos com a casca, a cauda e as patas ainda ligadas ao corpo, geralmente eram animais que estavam vivos.”

Os camarões podem ter entrado na amêijoa para fazer ninho ou a muda, mas não há evidências desses comportamentos. Também podem ter procurado abrigo de uma tempestade que acabou por os enterrar, mas determinar uma sequência tão curta de eventos como esta é quase impossível sem uma “máquina do tempo”, diz Russel Bicknell, paleontólogo da Universidade de Nova Inglaterra, na Austrália, e autor do novo estudo.

“Os camarões podiam estar seguindo um instinto básico de sobrevivência: estavam se escondendo de predadores. Os camarões estavam muito longe do topo da cadeia alimentar. Quase todos os outros animais, exceto coisas como bivalves (um tipo de molusco) que se alimentam através de filtragem, podiam ter comido estes pequenotes”, conta Russel Bicknell.

Este espécime é a adição mais recente a uma lista que está crescendo lentamente de criaturas fossilizadas que procuram abrigo em outros animais – e indica aos biólogos que alguns camarões já optam pelo inquilinismo há pelo menos 100 milhões de anos.

“É uma grande descoberta”, diz Ninon Robin, paleontóloga do Instituto Real Belga de Ciências Naturais, que não participou no estudo. “É muito raro encontrar espécimes como este, espécimes em associação. É preciso ter muita sorte.”

Um intruso educado

No espectro das parcerias de organismos, o inquilinismo está exatamente entre a simbiose, onde ambos os organismos beneficiam, e o parasitismo, onde um organismo tira proveito do outro. Se o organismo hospedeiro ainda estiver vivo – como acontece com os minúsculos caranguejos-ervilha aninhados no interior de mexilhões – este não se beneficia da relação, mas também não é realmente incomodado. O intruso ganha um pouco de segurança sem ter de oferecer algo em troca.

Leia mais: Lição de solidariedade: espécies diferentes se beneficiam na relação simbiótica

Um inquilino clássico é o caranguejo-eremita. Este crustáceo não constrói a sua própria concha à medida que cresce, dependendo dos restos de outros animais que produzem conchas, como caracóis. O caranguejo-eremita precisa de usar a concha de outro individuo para sobreviver, mas para outros tipos de inquilinos, incluindo os camarões, trata-se mais de uma questão de conveniência.

O inquilinismo “começou muito cedo” na história da vida animal, diz o paleontólogo Adiël Klompmaker, da Universidade do Alabama, um dos autores do estudo. O animal mais antigo de que há conhecimento provavelmente evoluiu há mais de 541 milhões de anos, embora algumas evidências indiquem que os primeiros animais surgiram muito antes; e os animais com conchas provavelmente apareceram logo a seguir.

Quando alguns animais começaram a desenvolver conchas, diz Adiël Klompmaker, outros animais começaram a usá-las para se esconderem. A evidência fóssil mais antiga e plausível de inquilinismo é um conjunto de trilobites, um grupo extinto de artrópodes marinhos, que foi encontrado no interior de conchas de nautiloides, um grupo de cefalópodes que datam do período Ordoviciano, há cerca de 485 a 444 milhões de anos. Uma variedade de habitantes oceânicos também foi encontrada em amonites, moluscos extintos com conchas espirais distintas que podem atingir quase os 1,8 metros de diâmetro.

“Nautiloides grandes, amonites grandes, esses tipos de coisas oferecem muito mais proteção porque há mais espaço para um animal se esconder”, diz Russel Bicknell. Mas numa situação mais inusitada, a concha de uma amêijoa pode ter servido.

Esconder do perigo

Para além dos três camarões no interior da amêijoa, os paleontólogos encontraram outra amêijoa ainda maior, hospedando cerca de 30 peixes minúsculos que fossilizaram na mesma formação geológica. A amêijoa que contém os peixes ainda não foi descrita em um artigo científico, mas ter dois espécimes bem preservados de pequenos organismos vivendo no mesmo tipo de amêijoa sugere fortemente que as criaturas procuraram este abrigo em resposta a uma ameaça ambiental, diz Russel Bicknell.

Se estas criaturas estivessem fugindo de predadores, como acredita Russel Bicknell, podem não ter encontrado outro lugar para se esconder. Não há evidências de um recife de coral na área, algo que provavelmente teria fornecido melhores esconderijos para os camarões e outros animais na camada inferior da cadeia alimentar.

“Existem inúmeros perigos no fundo do oceano”, comenta Adiël Klompmaker. Longe dos recifes, com escassez de opções para se esconderem de predadores, até um bivalve seria atraente para um camarão.

Fonte: National Geographic